Terra do Sol Nascente em Campo Grande

Por Luiz Carlos Pais
Entre as diversas raízes étnicas e culturais que fizeram florescer a cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, está a comunidade de imigrantes e descendentes de japoneses vindos da Província de Okinawa.

A história desses pioneiros remonta ao início da década de 1910, época da construção da Estrada de Ferro Itapura Corumbá, que depois de ser inaugurada foi integrada à Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

A grande maioria desses imigrantes chegou ao Mato Grosso em viagem fluvial, passando pela Argentina, subindo o rio Paraguai até Porto Esperança, onde iniciou uma das frentes de construção da ferrovia.


Memórias preservadas pela comunidade nipônica indicam que cerca de 120 imigrantes okinawanos trabalharam na ferrovia. Obra que marcou o início de um novo tempo no desenvolvimento da região, juntamente como a expansão da pecuária e a instalação das grandes unidades militares. Uma das dificuldades da obra foi a falta de operários dispostos a enfrentar o pesado trabalho, o calor excessivo e a distância dos grandes centros.

A empresa resolveu esse problema pagando um bom salário, além fornecer refeições e alojamento. Desse modo, os operários que conseguissem enfrentar as adversidades do trabalho teriam, ao final da empreitada, suas economias para iniciar uma outra atividade.


Após a inauguração da ferrovia, em 1914, dezenas deles resolveram fixar residência na promissora vila de Campo Grande e começaram a trabalhar no plantio de hortaliças em terrenos localizadas às margens do córrego Segredo. Era uma época de florescimento da vila, elevada à categoria de cidade, pela lei no 772, de 16 de julho de 1918. Assim, as famílias de imigrandes de Okinawa se multiplicaram e logo começou a nascer a primeira geração de descendentes nipônicos campo-grandenses, também chamados de nisseis.


Razão pela qual os lideres da comunidade cuidaram de fundar, ainda em 1918, a Escola de Língua Japonesa, visando preservar suas raízes culturais. Essa escola foi instalada na Colônia Chacrinha, numa modesta casa de madeira às margens da ferrovia, não muito distante da atual Feira Central. Em 1923, essa escola foi transferida para um prédio localizado na região urbana, tendo depois sua denominação alterada para a atual Escola Visconde de Cairu.


Nessa época, entre as comunidades japonesas instaladas no entorno de Campo Grande, teve início a Colônia Bandeira, em terras de várzeas localizadas às margens do rio Anhanduizinho. Como essas terras não eram apropriadas à tradicional pecuária, seus proprietários as arrendavam para as famílias japonesas que começaram a trabalhar conjuntamente, visando abastecer a cidade que estavam em franco crescimento. Aos poucos, os pioneiros foram colhendo os frutos desse trabalho e passaram a adquirir suas propriedades, enquanto outros optaram por abrir casas comerciais no centro da cidade.


Para conhecer os detalhes dessa história centenária é possível acessar o livro “Terra da esperança – kibo no daitsi – trajetória da imigração japonesa de Okinawa em Campo Grande”, organizado pela Associação Okinawa de Campo Grande, disponível gratuitamente no link: http://www.okinawacgms.com.br/. Foi em reverência à memória desses valorosos imigrantes que escrevemos esta crônica histórica da nossa querida capital sul-mato-grossense.

Foto: Henrique Kawaminami

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