Pouco mais de sete anos antes da instalação da comarca de Paranaíba, em 1874, a localidade, então chamada Vila Sant’Ana do Paranaíba, era descrita como um pequeno povoado com aproximadamente 800 habitantes. Tinha “três ou quatro ruas bem alinhadas, uma matriz em construção, muitos lustres, o tipo melancólico de uma vila em decadência, o silêncio por todos os lados, crianças anêmicas, mulheres descoradas e homens desalentados”.
Essa descrição é do Visconde de Taunay, registrada na historiografia e reproduzida pelo mineiro José Antônio Pereira, biografado como fundador de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, durante sua passagem pelo vilarejo em sua viagem de retorno a Monte Alegre, em Minas Gerais. O cenário que ele encontrou em 1875 foi bem diferente, incluindo uma habitação assobradada na vila.
O desenvolvimento havia chegado e, com ele, alguns problemas. Quando José Antônio Pereira chegou à vila, um surto de febre palustre tomava conta da cidade e a colaboração de viajantes era solicitada, especialmente daqueles com conhecimentos fitoterápicos, terapêuticos homeopáticos ou qualquer ajuda que pudessem oferecer à comunidade local. O mineiro permaneceu por vários meses na vila.
O desenvolvimento – Antes denominada Sant’Ana do Paranaíba, a localidade era conhecida como “freguesia” ou “arraial”, um pequeno aglomerado rural ou urbano sem autonomia administrativa. Com a chegada da estrada do Piquiri, em 1836, ligando o norte de Mato Grosso, passando pelo Bolsão rumo à região Sudoeste, a localidade foi emancipada e se tornou município em 19 de abril de 1838. Assim, começou a desempenhar um papel importante no desenvolvimento da região sul do Estado, que em 1979 se separou do norte, e Paranaíba passou a ser uma das 24 comarcas do novo Estado de Mato Grosso do Sul.
A estrada do Piquiri teve um papel crucial no desenvolvimento do Brasil. Com a conclusão do trecho, a navegação que alcançava a região Centro-Oeste (Corumbá e Cuiabá) apenas pelo Rio Paraguai perdeu a exclusividade e entrou em decadência.
A guerra – Mais distante geograficamente, a cidade também teve um papel importante na Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870, servindo como rota de apoio logístico para a fuga dos civis envolvidos nesse conflito. Segundo Hildebrando Campestrini, na obra Santana do Paranaíba, a destruição das cidades do sul da província (Corumbá, Nioaque e Miranda) beneficiou a região de Paranaíba, pois numerosos moradores da Vacaria, fugindo da invasão, se refugiaram nela, acolhidos por parentes; e também porque parte dos suprimentos enviados para a frente da campanha (principalmente na Retirada da Laguna) passou por Santana, nome adotado antes de se tornar oficialmente apenas Paranaíba.
A Comarca – Paranaíba é a décima circunscrição da Divisão Judiciária de Mato Grosso do Sul, compreendendo esta comarca e as de Aparecida do Taboado, Cassilândia, Costa Rica, Chapadão do Sul, Inocência e Paraíso das Águas. A comarca possui duas varas cíveis e uma criminal, e é composta pelo distrito de São João do Aporé.
A população de Paranaíba (MS) chegou a 40.957 pessoas no Censo de 2022, representando um aumento de 1,89% em comparação com o Censo de 2010. O volume processual na comarca em 2024 é de mais de 16 mil processos em andamento.