Participantes da 9ª Prova de Leite a Pasto do CTZL da Embrapa Cerrados são premiados

O pesquisador Carlos Frederico Martins apresentou os resultados da Prova

O Centro de Tecnologia para Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL) da Embrapa  Cerrados (DF) divulgou na manhã da última terça-feira (17) os resultados da 9ª Prova Brasileira de Produção de Leite a Pasto do Zebu Leiteiro do CTZL, que teve a participação de novilhas das raças Gir Leiteiro, Guzerá e Sindi. Os criadores receberam certificados de participação e, os melhores colocados, um troféu alusivo ao animal participante da avaliação zootécnica.

Realizada desde 2015 pela Unidade e pela Associação dos Criadores de Zebu do Planalto (ACZP), a Prova tem como objetivo identificar, por meio da avaliação de lactações completas, matrizes com potencial genético superior para produção de leite a pasto. 

O chefe geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, lembrou que o CTZL é um ambiente promotor de inovação que realiza pesquisas e transferência de tecnologias, além de estabelecer parcerias, como as que viabilizam a realização da Prova. Ele apontou que os dados zootécnicos e de fisiologia vegetal e animal já gerados pela pesquisa, bem como as condições climáticas e de produção do Cerrado mostram que o bioma tem totais condições de se tornar campeão mundial na produção de leite. “Hoje, o grande desafio é a sustentabilidade, e não há nada mais sustentável que produzir leite a pasto, na nossa concepção enquanto pesquisador. O leite no Brasil é uma janela de oportunidade e temos que ocupar esse espaço, trazendo junto outros sistemas”, afirmou.

Sebastião Pedro ressaltou a dimensão nacional da Prova, com animais de diferentes estados, e que a ideia é estabelecer um modelo de produção de leite no Cerrado sustentável nos eixos econômico, ambiental e social. “Temos que pensar no sistema como um todo. Não enxergamos a bioeconomia e a economia circular funcionando sem o gado leiteiro a pasto. O pasto oferece alternativa para todas as dimensões de produtores e o leite é a atividade que dá regularidade ao fluxo de caixa”, explicou, informando que a infraestrutura do CTZL, a exemplo do Laboratório de Reprodução Animal, deverá ser remodelada. “Acreditamos que a genética é o caminho mais curto para a mudança de patamar. E ela está nas nossas mãos”, completou, agradecendo aos criadores e parceiros da Prova.

Leizer Valadão, presidente da ACZP enfatizou o sucesso da parceria de 10 anos com a Embrapa Cerrados. “A Prova tem sido mais prestigiada a cada dia, com animais vindo de longe, da Paraíba, de Pernambuco. Se o criador se dispõe a fazer isso, é porque acredita num processo fidedigno e rentável. Estamos provando que é viável produzir leite a pasto. E o zebu se presta a isso, com um trabalho de genética que não se faz da noite para o dia, demanda pesquisa”, disse, parabenizando a equipe da Unidade.

O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGil), Rodrigo Borges, destacou que a rusticidade, a longevidade e a adaptabilidade ao clima do Cerrado do zebu leiteiro estão intimamente ligadas ao tipo de prova zootécnica realizado no CTZL. “A Prova é essencial para a raça, complementa os outros trabalhos de melhoramento genético que temos feito no Gir Leiteiro. A Embrapa a conduz de forma transparente, profissional e técnica, e os criadores que estão vindo de longe refletem a credibilidade. Acredito nos resultados que a Prova pode levar para o zebu leiteiro como um todo”, disse.

Rafael Vizoná, gerente de melhoramento genético do leite da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu do Brasil (ABCZ), salientou a característica da Prova de avaliar o desempenho dos zebuínos em campo. “Isso traz o zebuíno à realidade e mostra como ele pode se encaixar na pecuária leiteira funcional. As dificuldades na condução da Prova refletem a condução da pecuária leiteira no dia a dia”, afirmou.

O criador Eduardo Oliveira, representando a Associação Brasileira dos Criadores da Raça Sindi (ABCSindi), a Federação da Agricultura e Pecuária do DF (FAPE-DF) e o Sindicato dos Criadores de Bovinos, Bubalinos e Equídeos do DF (SCDF), elogiou o trabalho conduzido no CTZL. “Durante o ano, sempre passamos por aqui e trazemos criadores que vêm a Brasília para conhecer as raças de zebu. A Prova é uma valorização e demonstra que, nessa forma e como é mensurado aqui, com os animais a campo, é uma realidade do Brasil, abrindo portas para novos produtores participarem”, afirmou, lembrando que mais criadores da raça Sindi têm manifestado interesse em participar da avaliação.

Márcio Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e membro do Comitê Assessor Externo (CAE) da Embrapa Cerrados, ressaltou a parceria da Embrapa com o cooperativismo brasileiro para o desenvolvimento agropecuário brasileiro e afirmou que eventos como a Prova e ambientes promotores de inovação como o CTZL representam o modelo de parceria que ele acredita ser o futuro da agropecuária brasileira. 

“É esse tipo de relação com a iniciativa privada que fará que a pesquisa pública de bom nível se sustente. As associações de produtores, os sindicatos rurais e as cooperativas precisam se envolver e participar mais, fazer o diálogo com a Embrapa e apoiar o desenvolvimento da tecnologia e da ciência dentro da Empresa. Sou produtor e sei que manter os negócios de pé é um desafio diário, e na pecuária isso é muito forte. Temos que estar unidos e a Embrapa é uma âncora para iniciarmos esse trabalho”, incentivou.

Resultados

O pesquisador Carlos Frederico Martins, coordenador da Prova, explicou a metodologia utilizada e apresentou os resultados finais da nona edição. A nona edição contou com a participação de 13 novilhas Gir Leiteiro, 13 Guzerá e sete Sindi de diferentes pedigrees e oriundos do DF, de Goiás, de Minas Gerais, da Bahia, de Pernambuco e da Paraíba.

Na Prova, os animais são mantidos em pasto de 12 ha com braquiária brizantha BRS Piatã rotacionado em dois módulos, sendo oito piquetes de 0,7 ha em cada módulo. Eles são avaliados durante o período completo de lactação quanto aos atributos econômicos produção de leite (peso de 35%), composição e qualidade do leite (15%), intervalo entre parto e concepção (15%), persistência de lactação (15%) idade ao parto (10%) e morfologia (10%), que compõem um índice ponderado final, o Índice Fenotípico Geral (IFG).

A média geral dos animais avaliados em cada raça equivale ao IFG=100%. As novilhas com IFG acima de 1,5 do desvio padrão da média são classificadas como elite, enquanto as com IFG abaixo de 1,5 do desvio padrão até a média são classificadas como superiores. Os animais que ficaram abaixo da média são categorizados como regulares.

Martins apresentou os resultados dos animais, por raça, em cada atributo mensurado e, ao final, a classificação pelo IFG. A novilha Fragancia (HNC 824), da Fazenda HNC, de Luziânia (GO), foi a primeira colocada na raça Gir leiteiro. Na raça Guzerá, Guinada JBN (JBNG 160), da Fazenda São José, de Garanhuns (PE) foi a novilha destaque. Já na raça Sindi, o primeiro lugar foi da novilha GZ Melissa FIV (MRTS 44), da Fazenda Três Poderes (DF).

Dois animais de cada raça também foram destaques pelos melhores desempenhos em persistência da lactação e intervalo entre parto e concepção: Gamela (BRGY 146), da Embrapa Cerrados (persistência de lactação) e Galeza (HNC 858), da Fazenda HNC (intervalo entre parto e concepção) na raça Gir Leiteiro; Guinada JBN (JBNG 160), da Fazenda São José (persistência de lactação) e Boa Lembrança da Morumbi (LDCV 7152), da Fazenda Morumbi, de Luziânia (intervalo entre parto e concepção), na raça Guzerá; GZ Melissa FIV (MRTS 44), da Fazenda Três Poderes (persistência de lactação) e Piedade FIV D (MVDS 3672), da Fazenda Carnaúba, de Taperoá (PB) (intervalo entre parto e concepção).

Criadores exaltam a avaliação e o desempenho dos animais

“É uma grande satisfação participar da Prova porque ela avalia realmente o potencial genético do gado rústico a pasto, na realidade do País, sem muitas demandas de tecnologia. A Prova dá a confiabilidade para que os pequenos proprietários, que não têm muito recurso financeiro, tenham uma genética de ponta para que consigam manter e melhorar o rebanho e produzir leite”, disse o criador Gustavo de Carvalho, sócio da Fazenda HNC.

A propriedade, que participa deste a primeira edição da Prova, teve o animal primeiro colocado na raça Gir Leiteiro, além do sexto colocado e destaque no quesito intervalo entre parto e concepção. “Esses resultados dão visibilidade aos animais da fazenda e principalmente para a raça Gir, que proporciona a rusticidade para os produtores. A avaliação é boa para ajudarmos os pequenos criadores que precisam de uma genética desse porte”, comentou Carvalho.

José Bezerra Neto trouxe novilhas Guzerá do interior de Pernambuco para participar pela primeira vez da Prova, e acabou obtendo o primeiro e o sexto lugares com os animais, além do destaque na raça em persistência da lactação. “Considero, hoje, a prova mais importante, por avaliar os animais no ambiente real de produção em condições iguais. Mesmo que estejamos fora do nosso ambiente, que é o Semiárido, é uma prova em que os animais são avaliados de maneira justa e em condições reais de produção”, destaca.

Para Neto, apesar de acompanhar os animais no dia a dia da Fazenda São José, em Garanhuns, e de buscar os melhores cruzamentos, é interessante poder avaliar o nível do trabalho. “Poder comparar nosso trabalho com os de outros rebanhos nos dá uma ideia de que direção seguir. Mais do que o resultado em si, é importante saber que o trabalho está seguindo um rumo adequado”, afirmou.

Ricardo de Toledo, da Fazenda Três Poderes (DF), é proprietário da novilha primeira colocada na raça Sindi, animal que também foi destaque na raça em persistência da lactação, além da quinta colocada. O criador concorda com os criadores das outras raças zebuínas sobre a importância da Prova: “Ela consegue colocar os animais em iguais condições, e que são condições condizentes com a nossa realidade atual nas fazendas, que é a produção de leite a pasto. Selecionamos a rusticidade, a adaptabilidade e a capacidade de produzir leite a pasto, que temos amplamente no Brasil”, explicou.

O criador destacou a felicidade de ter conseguido bons resultados na Prova, na primeira edição em que participa com animais Sindi – a fazenda tem marcado presença desde as primeiras provas com novilhas Gir Leiteiro. “Isso vem para reafirmar que estamos no caminho certo e que estamos selecionando animais da maneira que acreditamos ser a melhor para a raça Sindi produtora de leite nos trópicos. E nos dá motivação para continuarmos a trazer os animais para participarem da Prova”, disse.

Homenagens

Durante o evento, a Embrapa Cerrados e a ACZP homenagearam o criador Marcos Rodrigues da Cunha (in memoriam) e o médico veterinário e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) José Renato Junqueira Borges pelas contribuições à Prova Brasileira de Leite a Pasto do Zebu Leiteiro do CTZL e pelo apoio às pesquisas.

“Criador e selecionador de Sindi, Marcos sempre esteve conosco, participando desde a segunda edição da Prova. Temos produtos da parceria de genética que iniciamos. Estava conosco até recentemente, mas acabou falecendo”, lamentou o pesquisador Carlos Frederico Martins. 

“Meu pai era um grande criador e defensor da raça Sindi. Voltaremos a participar da Prova. Já tivemos uma campeã alguns anos atrás e, no ano passado, a terceira colocada. Temos potencial e queremos mostrá-lo”, disse o filho Rodrigo. “Marcos sempre foi um apaixonado pela pecuária e começou com a raça Sindi em 2006. Muito dedicado, buscou, nos parceiros, formar o plantel. Nossa família vai continuar o trabalho dele”, disse a esposa Lydia, agradecendo à Embrapa e aos criadores de Sindi pelo acolhimento.

O outro homenageado, José Renato Borges, tem dedicado a vida ao ensino e à medicina veterinária, apoiando os partos assistidos nas pesquisas com clonagem no CTZL e no dia a dia da Prova. “É um grande clínico e parceiro, que tem nos ajudado. Em nome do José Renato, estendo esta homenagem aos outros professores e residentes do Hospital Veterinário da UnB, pois não estamos sozinhos aqui”, disse Martins.

“Cheguei a Brasília há 25 anos e a Embrapa foi a primeira parceira, junto com a Secretaria de Agricultura, no desafio da clonagem, até hoje. Para nós, no ensino, a Embrapa teve uma importância muito grande. Vários alunos passaram por aqui, dentro dessa parceria. Só tenho a agradecer”, destacou.

O evento foi encerrado com a visita, a campo, aos animais participantes da 10ª edição da Prova, que já está na sétima pesagem do leite. As inscrições para a 11ª Prova serão abertas em breve. “A ideia é termos cada vez mais animais em avaliação aqui no CTZL e fazer a comercialização da genética ou mesmo atender a políticas públicas, fornecendo essa genética aos pequenos produtores”, explicou Martins.

A 9ª edição da Prova foi realizada com o apoio da ABCZ, da ABCSindi, da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGil), da Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal, da FAPE-DF, da Emater-DF, da UnB, da Empresa Paraibana de Pesquisa Agropecuária e da Associação Brasileira dos Produtores de Leite.

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