Campo Grande (MS) dará um passo significativo nesta terça-feira, 1º de julho, com a assinatura de um acordo de cooperação técnica entre o Hospital São Julião, o Instituto de Assistência e Pesquisa em Educação (IAPES) e a Academia de Medicina de Mato Grosso do Sul. A iniciativa tem como foco o fortalecimento das ações voltadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras condições neurobiológicas, por meio da integração entre ensino, pesquisa e assistência à saúde.
O acordo marca o início da criação de um centro de pesquisa especializado em autismo, que será estruturado nas dependências do Hospital São Julião e contará com coordenação científica dos pesquisadores Dr. Durval Batista Palhares e Dr. Almir de Sousa Martins. A proposta é investir em infraestrutura de ponta, com capacidade para a realização de exames genéticos avançados, considerados fundamentais para o diagnóstico precoce e mais preciso do TEA.
Além da atuação científica, o novo centro será voltado à formação de profissionais da saúde por meio de cursos de capacitação e programas de pós-graduação. Estão previstos cursos de especialização, mestrado e doutorado nas áreas de neurociência, genética e bioinformática, com foco no espectro autista.
“O diagnóstico precoce é essencial para um tratamento mais efetivo. Com o uso de exames genéticos, poderemos personalizar abordagens e melhorar a resposta clínica”, explica o Dr. Almir de Sousa Martins, um dos coordenadores do projeto.
O centro também será um polo de difusão do conhecimento. A programação inclui congressos, simpósios e seminários, que terão como objetivo promover o intercâmbio científico e ampliar a visibilidade da produção acadêmica voltada ao autismo.
A infraestrutura será garantida pelo Hospital São Julião, enquanto o IAPES e a Academia de Medicina vão oferecer suporte técnico e acadêmico. A parceria também estimula o surgimento de startups e iniciativas empreendedoras com foco em soluções tecnológicas para o autismo, além da formulação de ações de inclusão social.
“Nossa meta é transformar conhecimento em impacto social. A ciência precisa chegar à população, e este projeto caminha nessa direção”, afirma o Dr. Durval Batista Palhares.
Com validade inicial de cinco anos, o acordo pretende consolidar Campo Grande como um polo regional de referência em pesquisa sobre o TEA. Os primeiros resultados da parceria, como exames genéticos e atendimentos especializados, devem começar a ser ofertados ainda no segundo semestre de 2025.
Para além do avanço técnico e científico, a parceria se propõe a criar uma rede sólida de acolhimento e apoio para famílias e profissionais que atuam com pessoas dentro do espectro autista. O modelo de cooperação pode servir de inspiração para outras regiões do país, especialmente no interior, onde a carência de estruturas de diagnóstico e tratamento é mais evidente.
Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que uma em cada 100 crianças no mundo apresenta características do TEA. No Brasil, o número de diagnósticos tem crescido, mas ainda enfrenta obstáculos, como a escassez de serviços especializados e de profissionais capacitados fora dos grandes centros urbanos.
“Estamos estruturando algo que vai muito além de um centro de pesquisa. É uma rede de transformação baseada no conhecimento e na inclusão”, destaca Palhares.
Com a assinatura oficial marcada para esta terça-feira, os trabalhos de implementação do centro devem começar imediatamente. A previsão é de que a fase inicial envolva a adaptação de espaços físicos, aquisição de equipamentos de alta complexidade e definição da grade curricular dos cursos de pós-graduação.
A primeira turma de mestrado pode ser lançada já em 2026, enquanto os primeiros exames genéticos devem ser disponibilizados ainda este ano. Congressos e eventos científicos também estão no radar para os próximos meses.
A expectativa dos envolvidos é que a nova estrutura contribua para qualificar ainda mais os serviços de saúde em Mato Grosso do Sul, ao mesmo tempo em que fomente a produção de conhecimento relevante para o país.