Vivemos em uma era onde a tecnologia nos permite alcançar lugares e pessoas que, de outra forma, estariam fora do nosso alcance
No meio da madrugada, João, trabalhador morador no Jardim Água, em Dourados, acordou sobressaltado com o som de uma notificação. Em um reflexo quase automático, estendeu a mão para alcançar o smartphone na cabeceira da cama. A tela brilhante iluminou seu rosto, revelando uma nova mensagem em um dos inúmeros grupos de que fazia parte. Enquanto lia, não pôde deixar de notar que sua esposa, Suely, ao seu lado, estava igualmente absorta em sua própria tela. Cada um deles, conectado ao mundo todo, mas curiosamente distantes um do outro.
Na rua, a qualquer do dia a cena não é diferente. As pessoas caminhavam apressadas, olhos fixos nos aparelhos, indiferentes ao que acontece ao redor. Nas mesas dos restaurantes, famílias e amigos reunidos, mas cada um imerso em seu próprio universo digital. As vozes das conversas eram frequentemente substituídas pelo som das notificações e pelo toque suave dos dedos nas telas sensíveis. Como diria o jornalista João Carlos Torraca, o Macarrão: É fuego negron!
Vivemos em uma era onde a tecnologia nos permite alcançar lugares e pessoas que, de outra forma, estariam fora do nosso alcance. Com um simples toque, podemos conversar com alguém do outro lado do mundo, compartilhar momentos em tempo real e acessar uma quantidade infinita de informações. Porém, paradoxalmente, essa mesma tecnologia que nos conecta ao mundo, muitas vezes nos distancia daqueles que estão fisicamente próximos.
João recordou-se de tempos passados, quando as conversas eram olhares trocados e risadas compartilhadas. Quando uma viagem de ônibus era uma oportunidade de observar a paisagem ou trocar um sorriso com um desconhecido. Hoje, esses momentos parecem escassos, substituídos pela necessidade constante de estar online, de compartilhar e de curtir.
Mas a culpa não é da tecnologia. Ela é, afinal, uma ferramenta poderosa que tem o potencial de enriquecer nossas vidas de inúmeras maneiras. O verdadeiro desafio como lembra o amigo Antonio Coca, está em como a utilizamos. Talvez seja hora de reencontrar o equilíbrio, de redescobrir o prazer de uma conversa cara a cara, de olhar nos olhos e sentir a presença real de quem está ao nosso lado.
E assim, naquele quarto silencioso, João desligou o smartphone e virou-se para Maria, tocando suavemente seu braço. Ela levantou o olhar, surpresa, e, por um momento, ambos sorriram, sentindo a conexão verdadeira, aquela que não precisa de Wi-Fi nem de redes sociais, apenas da presença sincera de um ser humano para outro.