Justiça suspende concurso de Ponta Porã realizado pela Fapec, após denúncia

Após o site Diário MS News divulgar denúncia de que as provas elaboradas e aplicadas pela Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura) prejudicaram professores que participaram do concurso público da Prefeitura de Ponta Porã, a juíza Sabrina Rocha Margarido João, da 2ª Vara Cível de Ponta Porã, decidiu suspender o certame.

Segundo denúncia encaminhada por uma professora que participou do concurso público, mais de 180 docentes graduados com anos de experiência que obtiveram notas acima do requisito para serem aprovados na prova escrita, tiraram zero na redação.

A docente revelou que a Fapec não levou em conta nem mesmo a assinatura do candidato para zerar o requisito, não teve resposta de espelho da prova e nem explicação da entidade para tantos zeros, fazendo com que os escritos e já aprovados sem nota na redação se sentissem humilhados.

Na decisão judicial que suspendeu os trâmites do concurso público organizado pela Fapec, a magistrada determinou ainda que a Prefeitura Municipal tem 10 dias para prestar informações necessárias.

“Tendo em vista que, até o momento, já foram impetrados 17 mandados de segurança nesta 2ª Vara Cível com mesma causa de pedir e, considerando que ainda pendente de análise os critérios de correções adotados para a prova discursiva, impõe-se o deferimento da medida liminar, a fim de que o concurso seja suspenso até o julgamento final ‘writs’ impetrados”, destacou Sabrina Rocha Margarido João.

Entenda o caso

O relato de uma outra professora que não quis se identificar e que sempre trabalhou com redações revelou ao Diário MS News que a nota zero acabou com o respeito e a credibilidade de encarar seus alunos e seus pais. “Ficou parecendo que a minha redação foi um fracasso, um lixo. Outras professoras colegas minhas que também fizeram o concurso afirmam que não param de chorar e estão tomando remédios controlados”, afirmou.

Um outro grupo de professoras que fizeram o concurso disse que, após verificarem a redação com nota zero, constataram que parecia que a prova nem tinha sido corrigida. Ao lerem no site Diário MS News as matérias publicadas sobre o mesmo problema dos vestibulandos que fizeram as provas aplicadas pela Fapec, bem como em outros concursos públicos, as professoras consideram que a entidade falta com respeito e lisura.

Para elas, a renomada bancada da Fapec não deve nem ter corrigido as redações por falta de tempo. “Todas as redações escritas tinham como tema a função social da escola e o compromisso social do educador em tempos da educação inclusiva. Todas tiraram nota zero, mas, como isso é possível se os inscritos no concurso trabalham nessa área? Talvez eles tenham dissertado sobre dinossauros para fugir totalmente do tema e não terem alcançado ao menos nota 1, 2 ou 3”, disse a autora da denúncia, revelando que já entraram com recurso na Justiça contra a Fapec.

Vestibulandos

Na prática, a decisão judicial abre precedente para que os estudantes que participaram dos vestibulares da UEMS e da UFMS possam também recorrer contra o resultado. Eles apontaram falhas nas correções das provas elaboradas e aplicadas pela Fapec, que resultaram em notas muito baixas, principalmente na redação.

A divulgação do resultado do vestibular da UFMS, que foi realizado no dia 4 de dezembro de 2022, comprovou as denúncias feitas ao site pelos vestibulandos, que têm mobilizado as redes sociais pedindo a troca da Fapec. A reportagem foi procurada por dezenas de candidatos do vestibular 2023 da UFMS e todos reiteram as críticas ao processo seletivo organizado pela Fapec, sendo que até professores de cursinhos apontaram incoerências no método de correção e formulação das questões, segundo os estudantes.

A professora Ana Vitória, que é revisora de redações, postou na sua rede social que não consegue entender as notas apresentadas pela banca da Fapec. “O que eu vejo é um grande despreparo da banca, que, nitidamente, mal se debruçou sobre o conteúdo de diversas redações. Aliás, será que todas foram mesmo corrigidas? Ou apenas foram atribuídas notas zero aleatoriamente? Li algumas que foram para as quais foram atribuídas a nota 100, mas que na verdade apresentaram excelentes argumentações e ótimas reflexões sobre o tema proposto”, reclamou.

O professor João Francisco Medina Araújo, que ensina Física em cursos preparatórios para vestibular, também apontou incoerências na formulação das questões. “Eles estão formulando questões que as unidades de medidas estão erradas, não tem como resolver as questões, e às vezes, quando resolve, chega em resultados que não tem alternativa. Existem algumas inconsistências que eu não consegui entender. Por exemplo, tem um setor onde fala a média por competência. Tem 15 questões de linguagem e a média por competência foi maior que 15”, revelou.

Um vestibulando que prestou vestibular para o curso de Medicina, cujo nome será preservado, afirmou que as questões 38 e 40 de física apresentaram “erros inadmissíveis”, enquanto as questões 37 e 39 tiveram as respostas corretas alteradas no gabarito definitivo. “As questões de número 38 e 40 deveriam ser anuladas pois não apresentam resposta correta entre as alternativas. Contudo, anulou-se apenas a questão de número 40. As questões de número 37 e 39 tiveram as respostas alteradas. O gabarito preliminar publicado atribuiu as respostas corretas a essas questões. No entanto, o gabarito definitivo atribuiu como corretas alternativas que estavam erradas”, explicou.

SERVIÇO – Os leitores que desejarem denunciar alguma irregularidade podem enviar pelo e-mail [email protected] ou pelo WhatsApp (67) 99961-1287

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