Os planos de governo, apresentados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são documentos que detalham as intenções políticas e os compromissos dos candidatos para o período de 2025-2028. Por isso, como mulher e cidadã de Dourados, decidi analisar as propostas voltadas para as mulheres nos planos de governo dos candidatos à prefeitura. O que encontrei foi um grande abismo entre o discurso e a realidade.
Apesar de Dourados ter mais de 123 mil mulheres, representando a maioria da população e do eleitorado, segundo o Censo Demográfico de 2022 do IBGE, de forma geral, os candidatos oferecem propostas tímidas e genéricas, isso quando não ignoram praticamente a maior parte da população. Mesmo com esse peso numérico, as mulheres e meninas continuam sendo tratadas como coadjuvantes por grande parte dos candidatos. Falar em igualdade sem propostas concretas é um desserviço à luta histórica das mulheres. Não adianta ter uma candidata ou uma vice mulher apenas para cumprir uma expectativa simbólica. Afinal, a questão não é estética ou superficial, é estrutural!
Candidatos como Alan Guedes (PP), Marçal Filho (PSDB) e Racib Harb (NOVO) mencionam o tema das mulheres de maneira quase simbólica. Allan faz apenas duas menções, focando na violência de gênero, sem detalhar medidas preventivas ou de apoio estruturado. Marçal limita-se a incluir as mulheres em uma proposta de inclusão produtiva de grupos vulneráveis. Racib menciona duas vezes e tão somente relaciona as mulheres à uma política de assistência social.
Beto Teles (Rede) fala duas vezes sobre o tema, propõe paridade de gênero nas secretarias municipais, mas sem apresentar uma política abrangente. Bella Barros (PDT), com quatro menções, traz propostas que incluem empreendedorismo feminino e saúde, mas sua abordagem ainda carece da profundidade necessária para enfrentar as complexas desigualdades de gênero.
Em contraste, Tiago Botelho (PT) destaca-se ao mencionar as mulheres 26 vezes em seu plano de governo, fazendo disso um eixo central de suas propostas. Ao contrário dos adversários, suas ideias são profundas, abrangentes e demonstram um compromisso real com a transformação social e a garantia de direitos para as mulheres.
Ao lado de Tetila, primeiro prefeito em Mato Grosso do Sul a reconhecer as mulheres na estrutura do governo, Tiago propõe criar a primeira Secretaria de Mulheres, com autonomia e dotação orçamentária, um passo fundamental para garantir que as políticas públicas de gênero possam realmente mudar vidas. Além disso, o fortalecimento da Delegacia da Mulher, com serviços 24 horas e atendimento especializado, incluindo intérpretes de Guarani, Terena e Libras, reflete uma sensibilidade cultural e uma compreensão das especificidades locais que poucos candidatos demonstram. Há, também, o compromisso com a saúde integral das mulheres, especialmente as negras e indígenas, e a criação de um Observatório Municipal para monitorar e avaliar políticas de gênero, algo essencial para garantir avanços nas políticas públicas.
A questão não é apenas quantas vezes os candidatos mencionam as mulheres, mas como e com que compromisso estão dispostos a transformar essas menções em ações efetivas.
O que está em jogo no dia 6 de outubro não é apenas a eleição de mais um candidato. Estamos falando do futuro das mulheres de Dourados, que há muito tempo aguardam por políticas públicas que não nos tratem como uma nota de rodapé. A luta feminista nos ensina que não basta ocupar espaços, é preciso transformá-los. E é exatamente essa transformação que Tiago Botelho propõe: garantir que as vozes das mulheres sejam ouvidas e que suas necessidades sejam priorizadas.