“Google, como passa roupa?”: sem prática e com medo de errar, Geração Z aprende a cuidar de casa com a Internet

Busca por tarefas simples cresce entre jovens que dominam o digital, mas patinam nas rotinas do lar

A Geração Z, composta por pessoas nascidas entre meados da década de 1990 e o início da década de 2010 (aproximadamente 1997 a 2012), é hoje a principal faixa etária que mais utiliza o Google para tirar dúvidas e aprender a realizar tarefas básicas da vida doméstica, como limpar a casa, usar um esfregão, fazer manutenção de carros ou trocar o óleo. Dados divulgados em maio de 2025 pelo Think with Google, plataforma oficial que reúne pesquisas e insights sobre comportamento do consumidor e tendências digitais, apontam que esses jovens lideram as bilhões de buscas diárias no site em todo o mundo.

Essa tendência reflete uma mudança cultural profunda no modo como as novas gerações buscam autonomia. “Pessoas consideradas da Geração Z já nasceram inseridas no mundo da tecnologia, tendo acesso muito novas a celulares, tablets, notebooks, jogos eletrônicos, entre outras plataformas que facilitaram o contato com o mundo da internet”, explica a psicóloga Amanda Torres, professora da Estácio Campo Grande. Segundo ela, essa exposição precoce transformou a internet em uma aliada indispensável e, em muitos casos, em uma dependência.

Mais do que a busca por informação, a Geração Z apresenta uma busca incessante por respostas rápidas, perfeitas e eficazes, motivada pelo medo do erro e pelo receio do julgamento social. “Vivemos cercados de redes sociais onde pessoas se comparam o tempo todo, desvalidam vivências e experiências, onde a ansiedade não dá espaço para a espera e a vivência de processos; e o medo da autenticidade, dos julgamentos, bem como do erro, se tornam prevalentes. O que isso gera? Insegurança, medo de errar e, por consequência, a busca incessante por respostas rápidas”, afirma Amanda.

Essa dependência da internet para aprender tarefas básicas, que antes eram ensinadas no convívio familiar, gera um fenômeno de autonomia fragilizada. “Há um desejo pela autonomia instrumental, por isso há uma mobilização pela busca por informações básicas sobre atividades do dia a dia, contudo, a busca por esta autonomia estando sempre associada à internet gera uma autonomia fragilizada, demonstrando insegurança subjetiva importante e medo excessivo”, alerta a psicóloga.

Aprendizado familiar

Outro ponto importante destacado por Amanda é o impacto emocional e social da substituição do contato intergeracional — com pais, avós e professores — pela busca solitária em ferramentas digitais como Google e YouTube. “Recorrer a familiares, professores, entre outros, para adquirir algum aprendizado não diz respeito apenas à transmissão e obtenção de informações, há também a mediação de afetos, sentimentos de pertencimento e validações. Se esses vínculos se enfraquecem, isso pode acarretar isolamento afetivo, ausência ou empobrecimento de trocas e vínculos afetivos”, explica.

A psicóloga lembra ainda que a ausência do contato intergeracional pode aumentar a insegurança e a baixa autoestima, dificultando o diálogo entre pessoas de diferentes gerações e ampliando sentimentos de solidão e desamparo. “Reconhecendo que a mediação humana continua sendo insubstituível para o amadurecimento emocional, ganho de autonomia e segurança”, pontua.

No Brasil, a busca por respostas na internet vai além do simples ato de encontrar informações — tornou-se um guia essencial na jornada do consumidor. A pesquisa que acompanhou o uso da Busca Google por 14 pessoas durante dois meses em cidades como São Paulo, Curitiba e Recife mostra que usuários da geração Z se sentem confiantes e guiados pela plataforma, que também ampliou seus recursos com inteligência artificial para melhor compreender o contexto das perguntas.

Essa transformação digital expressa um movimento global, observado também nos Estados Unidos, onde o uso de plataformas como YouTube para aprender habilidades práticas já é consolidado. Segundo dados do Pew Research, mais da metade dos usuários de YouTube nos EUA usam a plataforma para “descobrir como fazer coisas que nunca fizeram antes”. No TikTok, conteúdos sobre limpeza e cuidados domésticos também figuram entre os mais populares.

A Geração Z, que hoje representa cerca de 30% da população brasileira, é a principal protagonista desse cenário — conectada, informada, porém também mais ansiosa e cautelosa diante dos desafios da vida adulta.

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