A famosa fofoquinha, ou aquele ‘fuxico’ que são comuns no dia a dia do brasileiro, e considerado até um hábito inofensivo, consiste em compartilhar informações da privacidade de terceiros, com uma pessoa ou mais. O indivíduo é curioso por natureza, e a fofoca pode até ser considerada como algo enraizado em diversas culturas.
A História conta que falar sobre a vida alheia é prática antiga e remonta aos tempos das cavernas. O objetivo, àquela época, era buscar informações mais íntimas das pessoas para conhecerem mais sobre suas fraquezas, medos, conhecimentos, desejos e outros. As revelações eram transmitidas oralmente, já que não havia ainda a invenção da escrita. Fazendo parte da vida social, esses relatos passaram a ganhar espaço também na vida política, com grande poder de influência se usada para desmoralizar pessoas com importância e destaque.
Relacionado ao caráter científico, o estudo da fofoca também resultou em análises sob o campo da psicologia. Pesquisa realizada na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, e veiculada no Journal of Personality and Social Psychology, mostrou que uma pessoa gasta, em média, 52 minutos fofocando todos os dias. Segundo a publicação, a fofoca poderia exercer um papel fundamental na manutenção da ordem social, visto que pode ajudar as pessoas a reduzir o nível de estresse.
No entanto, quando existe más intenções nesse hábito de comentar sobre a vida alheia, podem surgir impactos negativos que afetam o comportamento do indivíduo, resultando em prejuízos até psicológicos. Segundo a professora do curso de Psicologia da Anhanguera, Juliana Del Grossi, a fofoca não é algo abordado de forma direta na área de estudo, mas pode ser percebido nas relações sociais, dificultando as relações. “A fofoca é esse ato de falar de alguém, distribuir ou coletar informações da vida pessoal de outras pessoas. Isso pode ter impactos quando ultrapassa limites e resulta em bullying, violências verbais e físicas”, afirma a professora.
Raramente a fofoca tem intenções positivas, pode até acontecer, mas sempre há o intuito de especular, confabular, comentar sobre as particularidades de alguém, algo que só diz respeito à intimidade de uma pessoa. Há muitas intenções envolvidas no compartilhamento dessas informações, pode ser para causar intrigas no trabalho, na família, em um grupo de amigos, até a divulgação de informações falsas, sem fundamentos.
Para a psicóloga não há tom positivo em nenhum momento, quando existe a intenção de comentar ou compartilhar informações sobre a individualidade do outro. “Considero que a maioria das fofocas é tóxica e com falta de respeito com o próximo, pois basicamente não há autorização dos envolvidos no compartilhamento de informações sobre sua vida, isso quando as informações nem são verdadeiras ou são deturpadas no meio do caminho”, comenta.
É preciso estar alerta se irá haver consequências para o alvo das fofocas, um cuidado para que não haja o rompimento dos limites e passe de um ‘comentário’ para um constrangimento. “Na maioria dos casos, as pessoas não conseguem ver grande problemas no que falam, mas também é necessário refletir se quando o outro receber a informação que algo sobre ele está sendo falado, qual será sua reação. Um comentário que inicialmente pode parecer inofensivo acaba sendo responsável por desencadear transtornos psicológicos, como ansiedade, dentre outros transtornos”, diz.
Por via das dúvidas, é bom evitar desconfortos ou situação desagradáveis, ainda que sem intenção, a professora indica a prática da empatia. “O mais indicado é não pensarmos de forma individual no momento da fofoca, mas de uma forma coletiva, nos colocando no lugar do outro”, finaliza.