Quatro estudantes da UFMS receberam o Prêmio Menção Honrosa Ornaldo Sena no 11º Encontro Nacional de Estudantes Indígenas (Enei), realizado na Universidade de Brasília (UnB) de 16 a 19 de setembro. Entre eles, três assinam os trabalhos que ficaram em primeiro e segundo lugares entre os 30 melhores do evento.
A delegação da UFMS foi composta por estudantes do Núcleo de Permanência Indígena no Ensino Superior – Rede de Saberes, criado em 2005. “Na UFMS, o grupo cada vez mais ganha protagonismo, com a organização de eventos, como a acolhida dos calouros indígenas no início do ano, oferecendo informações sobre estudos, bolsas e moradias, entre outros. Há alguns anos estão organizando o Abril Indígena, com eventos e danças na Universidade. No mês de agosto organizaram o 2º Seminário de Conhecimentos Tradicionais Indígenas, uma forma de debater a interculturalidade e a importância dos conhecimentos tradicionais na academia”, enfatiza o professor da Faculdade de Ciências Humanas e coordenador da Rede Saberes na UFMS, Antonio Hilário Aguilera Urquiza.
“[Os estudantes indígenas foram participar do Enei, na UnB, com importante apoio da UFMS, especialmente da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis. Nesse evento, houve apresentação de trabalhos acadêmicos com premiação no final para os melhores trabalhos. O grupo da UFMS, através da Susan Terena, recebeu o prêmio de melhor pesquisa. Esse fato é muito significativo, pois vem reforçar o amadurecimento desse grupo e seu empoderamento dentro da UFMS”, complementa.
A estudante da pós-graduação em Antropologia Social Susan Eloy Terena conta que ficou surpresa ao ouvir seu nome no anúncio do primeiro lugar, entre os mais de 140 trabalhos apresentados. “Confesso que fiquei grudada na cadeira, sem reação, e só depois da euforia da minha delegação que fui buscar o prêmio. A outra sensação que tive, foi de estar trilhando o caminho certo, de estar no meu propósito”, relembra.
O tema apresentado por Susan foi Identidade e autodeterminação: percepções e experiências sobre o processo de institucionalização indígena na idade adulta perante a Fundação Nacional dos Povos Indígenas, trabalho orientado pelo professor da Faculdade de Ciências Humanas Antônio Hilário Aguilera Urquiza, no qual a estudante fala um pouco sobre sua retomada identitária enquanto indígena em contexto urbano.
“É a primeira vez que participo de um Enei e, a meu ver, a importância é de mais uma vez, nós, enquanto acadêmicos indígenas, mostrarmos nosso protagonismo, demonstrar que a ancestralidade, a oralidade vive em nós”, comenta. Sobre o evento, a estudante destaca a programação, com rodas de conversas e oficinas sobre assuntos como justiça climática, universidade indígena, permanência indígena na academia e saúde mental, entre outros, e a liberdade de mostrar a cultura local, como danças tradicionais, artesanatos, cantos e rezas. “Isso pra nós é de suma importância, lembrando que o evento não era apenas para nós, indígenas, e sim para quem fosse. Então dizer ao nosso país que sim, estamos aqui, resistimos e persistimos enquanto estudantes indígenas é a relevância deste encontro, até para futuros ingressantes indígenas na academia e para fomentar ao poder público que mesmo com todas as nossas dificuldades, não desistiremos”, destaca.
O segundo lugar na premiação também ficou com estudantes da UFMS. O trabalho Fitoterapia Farmácia Viva e Saúde Indígena foi apresentado pelos estudantes do Curso de Farmácia Lucyanna da Silva Cabo e Jerri Cândido Pereira, do povo Terena, sob orientação da professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição Soraya Solon. “Foi a primeira vez que participamos do Enei, foi uma surpresa receber essa menção honrosa, entre tantos trabalhos de alta qualidade”, comenta Lucyanna. “Não esperávamos esse resultado, pois foi a nossa primeira apresentação em um evento nacional. Participar do 11º Enei nos trouxe motivação para irmos no próximo, em 2025, e também para incentivar outros acadêmicos indígenas a produzirem pesquisas e resumos científicos”, completa Jerri.
Quem também relata a alegria do momento é a estudante da Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens Mariana Cabral Nogueira Gonçalves, que é da etnia Terena, vive no contexto urbano, mas tem familiares na aldeia Passarinho no município de Miranda. “Acredito que o meu projeto foi bem elaborado e perceptível as boas impressões dos pareceristas e do público que estavam analisando o meu trabalho científico, mas foi uma grande surpresa receber essa menção honrosa. Fiquei muito feliz em compartilhar esse momento com os meus amigos do Rede de Saberes da UFMS”, declara.
Seu projeto intitulado Síntese poética da vivência musical Terena através da experimentação musical contemporânea, sob orientação do professor da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação William Teixeira da Silva, aborda as práticas da manifestação das danças e música tradicional Terena, sendo vivenciadas e ressignificadas na experimentação musical contemporânea usando a música eletroacústica, e a ancestralidade e a contemporaneidade como movimento único, como corpo território entre as sonoridades.
O 11º Enei teve como tema 20 Anos Demarcando a Universidade e reuniu cerca de 800 estudantes de 124 povos de todo o país. O prêmio aos melhores trabalhos leva o nome de Ornaldo Baltazar Sena Ibã. “Ele foi um parente do povo Huni Kuin que atuou imensamente na luta estudantil e ancestralizou este ano”, explica Susan Eloy Terena.