Pet não é presente: saiba por que não se deve dar um bicho no Natal

O ano parece ter passado muito rápido – em alguns dias, já é Natal. Com a chegada das festividades e confraternizações, queremos ser criativos na hora de escolher os presentes. Mas, atenção: especialistas defendem que animais não devem ser um deles.

A médica-veterinária Lígia Issberner Panachão, que trabalha há anos com comportamento animal, explica que a adoção de um bicho requer muito comprometimento e responsabilidade e que, por isso, é importante que o tutor tenha vontade de ter um pet.

“Um animal nunca é um presente e muito menos um presente surpresa. Vamos supor que um cão ou um gato viva 15 anos – temos que cuidar desses animais durante toda a sua vida. Então quem o recebe – seja ele um cão, gato ou coelho – deve se preparar financeiramente e emocionalmente, além de dispor de tempo para se dedicar ao bicho. É uma responsabilidade muito grande, então ninguém que não está ciente disso deveria ganhar um pet de presente”, explica a especialista.

Quem ganha um animal de presente não deve abandoná-lo, pois isso pode influir diretamente em seu comportamento e saúde mental (Foto: Pexels/ Pixabay/ CreativeCommons)
Quem ganha um animal de presente não deve abandoná-lo, pois isso pode influenciar diretamente em seu comportamento e saúde mental (Foto: Pexels/ Pixabay/ CreativeCommons)

O animal demanda atenção e cuidados, e esse combo pode não ser compatível com o planejamento de férias de alguém que ganha um pet sem saber. Depois do Natal, o presenteado pode, por exemplo, ter acertado uma viagem e ter que encontrar um lar temporário para o pet, o que pode gerar estresse.

O problema é ainda maior quando os tutores optam por abandonar o bicho. Segundo o médico-veterinário Mauro Lantzman, especialista em medicina comportamental, quanto mais este animal é abandonado, maior a chance de ele desenvolver distúrbios de comportamento e distúrbios adaptativos.

“Isso implica na separação, ainda que a ruptura possa não ter formado um vínculo propriamente dito em tão pouco tempo. Ainda assim, ao sujeitar o animal a esse estresse todo – ir para um lugar, depois ir para outro e depois para outro –, acaba trazendo comprometimento ao seu bem-estar e à sua saúde mental“, ele explica.

Um cachorro abandonado por seus tutores pode sofrer, dentre outros problemas, com ansiedade (Foto: Pexels/  ROMAN ODINTSOV/ CreativeCommons)
Um cachorro abandonado por seus tutores pode sofrer, entre outros problemas, com ansiedade (Foto: Pexels/ ROMAN ODINTSOV/ CreativeCommons)

Dra. Lígia compartilha do mesmo entendimento e acrescenta que, desta forma, o animal perde a rotina e as suas referências de ambiente e tutores.

“Se for um filhote que está passando pelo processo de socialização, isso acaba sendo interrompido. O cão é um animal social que cria vínculo e se apega muito fácil às pessoas que estão ao redor. Quando é separado dessas pessoas, ele tende a sentir ansiedade“, explica.

A especialista explica ainda que há muitos casos de cães que passam por várias casas porque o tutor compra ou adota admirado pela estética ou moda da raça, mas não se informa sobre educaçãotreinamento e socialização.

“Assim, a pessoa não cria o cão corretamente e acaba tendo problemas. Em vez de resolver, ela desiste do animal. Esses cães que são adotados ou comprados por impulso muitas vezes são passados para frente porque não foi feita uma escolha consciente na hora de adquirir”, Lígia diz.

Animais gerados em
Animais gerados em “fábricas de filhotes” podem apresentar problemas de saúde, como doenças genéticas (Foto: Unsplash/ CreativeCommons/ Jakob Owens)

Outro ponto de extrema importância é que, em épocas de festas, muitas vezes os bichos são produzidos em larga escala nas chamadas fábricas de filhotes – criadouros ilegais de cachorros de raça. Além de destrutivo para as fêmeas (que engravidam a cada cio em condições insalubres), o Dr. Mauro revela que este processo acaba por gerar animais com distúrbios genéticos e outras doenças.

Por isso, vale reforçar que dar um animal como presente nunca é a melhor escolha e, se for o caso, isso deve ser previamente discutido.

“Se alguém realmente quiser presentear com um pet, o que se pode fazer é um vale com direito a um animal, porque isso pode ser discutido depois, junto a uma escolha consciente quanto à raça, sexo, tamanho, quando querem etc.”, sugere o Dr. Mauro.

Pets e crianças: uma relação que demanda supervisão e cuidado

Especialistas defendem que a responsabilidade sobre o animal dado como presente à criança é sempre do adulto (Foto: Unsplash/ CreativeCommons/ Picsea)
Especialistas defendem que a responsabilidade sobre o animal dado como presente à criança é sempre do adulto (Foto: Unsplash/ CreativeCommons/ Picsea)

Quando pets são dados de presente, é comum que o destinatário seja uma criança, com a intenção de que o animal seja uma companhia durante o seu desenvolvimento.

Ambos os especialistas entrevistados enfatizam, no entanto, que, neste caso, o responsável pelo animal é o adulto.

“Sozinha, a criança não consegue cuidar. Ela deve ter plena noção de que o pet não é um brinquedo, mas sim um ser vivo que tem que ser cuidado com responsabilidade. É preciso respeitá-lo, não se pode puxar os pelos ou fazer qualquer coisa que o machuque, não se pode invadir o espaço dele quando está dormindo etc. E essa relação entre o bicho e a criança deve sempre ser supervisionada e orientada pelos pais para que não ocorram acidentes. Além disso, o bem-estar do animal tem que ser visto como prioridade em detrimento da companhia e da diversão que ele proporciona à criança”, orienta Dra. Lígia.

Adultos devem sempre supervisionar a relação entre a criança e o pet para evitar acidentes e garantir o bem-estar de ambos (Foto: Pexels/ MART PRODUCTION/ CreativeCommons)
Adultos devem sempre supervisionar a relação entre a criança e o pet para evitar acidentes e garantir o bem-estar de ambos (Foto: Pexels/ MART PRODUCTION/ CreativeCommons)

Mauro acrescenta: “A responsabilidade está sobre os adultos, o que não significa que as crianças não podem participar e serem incentivadas a participar desse cuidado e dessa atenção. Mas, em última instância, eu sempre digo que quando você adquire um cachorro, ele é seu, não dos seus filhos. Eles vão usufruir e aprender, mas, em última instância, esse cachorro é seu e está sob sua responsabilidade dar atenção para o bem-estar físico e mental deste bicho”.

O que você precisa saber antes de presentear

Um animal não é um presente como qualquer outro. É um ser vivo e, como tal, exige muitos cuidados vitais, como aqueles relacionados à saúde: vacinação, exames periódicos, vermifugação, remoção de vermes, remoção de parasitas internos e parasitas externos (como pulgas e carrapatos), entre outros.

Tudo isso implica visitas iniciais ao veterinário e, no primeiro ano – aos dois, três e quatro meses de idade –, visita ao especialista para a vacinação e acompanhamento do estado nutricional.

A alimentação é apenas um dos cuidados vitalícios que o tutor deve ter com o bicho (Foto: Unsplash/ CreativeCommons/ Bonnie Kittle)
A alimentação é apenas um dos cuidados vitalícios que o tutor deve ter com o bicho (Foto: Unsplash/ CreativeCommons/ Bonnie Kittle)

Adotar ou ganhar um pet também significa garantir uma boa alimentação em quantidade e formulação ideais, seja uma ração equilibrada de boa qualidade ou uma alimentação caseira, desde que ela tenha sido orientada pelo veterinário.

Há também cuidados com higiene, como banho, tosa, limpeza dos olhos, do nariz, da orelha, dos orifícios, etc.

“Outra orientação importante que deve ser dada pelo veterinário ao tutor é como favorecer um bom desenvolvimento do comportamento desse animal no ambiente social que ele vai ser inserido. Ou seja, como ele deve se comportar”, explica o Dr. Mauro.

O tutor também deve se comprometer a dedicar tempo para brincar e passear com os animais. Caso não disponha deste tempo, o ideal é não adotar (Foto: Pexels/ Sam Lion/ CreativeCommons)
O tutor também deve se comprometer a dedicar tempo para brincar e passear com os animais. Caso não disponha deste tempo, o ideal é não adotar (Foto: Pexels/ Sam Lion/ CreativeCommons)

Ademais, o tutor deve prever disponibilidade de tempo para passeios e brincadeiras e possíveis gastos extras – com o adestramento, por exemplo. Todos estes pontos são importantes para garantir o melhor desenvolvimento do animal e seu bem-estar, além de incentivar que o vínculo e o cotidiano entre o animal e a família sejam harmônicos, equilibrados, saudáveis e felizes.

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