4 em cada 10 jovens já pensaram em parar de estudar durante a pandemia

A pandemia de Covid-19 ameaça a escolaridade de jovens brasileiros. Entre os estudantes matriculados na escola ou universidade que responderam à segunda edição da pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus (Covid-19)”, 43% disseram que já pensaram em parar de estudar desde que suas rotinas foram alteradas pelo coronavírus. Na primeira onda da mesma consulta, realizada em junho de 2020, esse número era de 28%. O estudo indica ainda que 6% dos jovens trancaram a matrícula. Destes, 56% o fizeram durante a pandemia.

A pesquisa promovida pelo Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), em parceria com Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, Rede Conhecimento Social, Unesco e Visão Mundial, ouviu 68 mil jovens de todo o Brasil, com idade de 15 a 29 anos, entre os dias 22 de março e 16 de abril.

Os principais motivos que levam jovens a interromper os estudos são financeiros (21%) e dificuldades com ensino remoto (14%). Para voltar, gostariam de ter estabilidade sanitária e melhores condições econômicas. Quase metade dos jovens que interromperam os estudos (47%) disseram que retornariam às aulas se toda a população fosse vacinada, e 36% querem garantia de renda básica ou auxílio emergencial.

“Todo este contexto tem forte influência no processo de desenvolvimento da população jovem no Brasil. A situação é grave. Precisamos urgentemente de ações concretas, com real capacidade de promover mudanças, atendendo as demandas emergenciais e apresentando perspectivas de futuro. Uma série de direitos têm sido violados ou negligenciados e para o enfrentamento da complexidade desses desafios será fundamental a construção de soluções que sejam baseadas em evidências, por isso decidimos realizar a 2ª onda da Pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus”, afirma Marcus Barão, Presidente do Conselho Nacional da Juventude.

Esses são alguns dos dados presentes no relatório da “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus (Covid-19)”, captados por meio de um questionário online com 77 perguntas divididas em cinco blocos temáticos: perfil sociodemográfico; saúde; educação; trabalho e renda; e vida pública. Os jovens participantes foram convidados a responder as questões pelo CONJUVE e pelas instituições parceiras desta iniciativa e outras organizações da sociedade civil, coletivos juvenis, secretarias e conselhos estaduais e municipais de juventudes, educação e assistência social. Durante a coleta de dados, foi realizado um monitoramento com o objetivo de garantir a diversidade entre os respondentes. Posteriormente, também foi feita uma ponderação nos dados para manter a coerência da amostra com a distribuição de jovens de 15 a 29 anos em todos os Estados brasileiros, tendo como referência a Pnad Contínua 2020 (IBGE).

“O envolvimento de jovens pesquisadores na construção de todas as etapas e a ampla mobilização de redes e coletivos fazem desta pesquisa um importante processo de diálogo e articulação social. A produção e disseminação de conhecimento é fundamental para apoiar o desenvolvimento de políticas sociais e oferecer à sociedade elementos que permitam participar, incidir e monitorar ações com e para as juventudes. Com o adiamento do censo demográfico, tornou-se ainda mais urgente produzir dados atualizados e compartilhar evidências que permitam análises contextualizadas”, diz Marisa Villi, diretora executiva da Rede Conhecimento Social.

Aumentou para 38% a proporção de jovens que buscou complementar sua renda

Os desafios dos jovens durante a pandemia não se limitam à sua relação com educação, mas estão interligados em todas as áreas pesquisadas. A preocupação financeira é confirmada quando eles são consultados sobre renda. Com a extinção do auxílio emergencial, aumentou para 38% a proporção de jovens que buscou complementar sua renda por necessidade em 2021 ante 23% em 2020. Entre os jovens pretos esse índice é maior: 47%.

Quem conseguiu ter esse complemento recorreu à informalidade. Entre os 4 a cada 10 que tiveram uma renda, dois fizeram trabalhos pontuais sem carteira assinada e um trabalhou por conta própria ou abriu um negócio. Para lidar com os efeitos da pandemia no trabalho, no entanto, eles querem apoios para o mercado formal. 25% acreditam que a ação prioritária para instituições públicas e privadas ajudarem jovens é estimular o surgimento de novos trabalhos, 20% querem políticas de renda emergencial para famílias vulneráveis e 20% querem ampliação dos empregos formais.

Saúde física e mental preocupam

Outro apoio importante que os jovens desejam é para lidar com a sua saúde mental. Seis a cada 10 dos jovens consultados relataram ter sentido ansiedade e feito uso exagerado de redes sociais durante a pandemia, enquanto cinco em cada 10 disseram que sentiram exaustão ou cansaço; e 4 a cada 10 tiveram insônia ou distúrbios de peso. Já um em cada 10 admitiram que chegaram a ter pensamentos suicidas ou de automutilação. Diante desses sentimentos, metade dos jovens considera prioritário garantir atendimento psicológico na saúde pública e 37% acham que esse atendimento deveria acontecer nas escolas.

Entre as medidas de autocuidado mais adotadas pelas juventudes durante a pandemia estão as atividades físicas (51%) e consultas médicas de rotina (31%). Mesmo assim, muitos não conseguiram adotar esses cuidados: cinco a cada 10 que não têm se exercitado, sete a cada 10 não foram a médicos ou odontologistas e nove a cada 10 informaram não ter iniciado psicoterapia. “Não consigo pagar ou custear, mas preciso de um atendimento psicológico!”, essa é uma afirmação de uma jovem que participou de oficina de Perguntação, metodologia de construção coletiva que foi usada para realizar o levantamento. Na segunda onda da “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus (Covid-19)”, 10 jovens de diferentes realidades, que já contribuíram com a 1ª edição da iniciativa, participaram de encontros online para apoiar todas as etapas da pesquisa.

Para se prevenir do coronavírus, 82% querem tomar a vacina. A possibilidade de imunizar a maior parte da população, inclusive, é vista por 92% dos jovens que participaram da pesquisa como uma maneira de trazer otimismo para as juventudes brasileiras, enquanto 87% acreditam que é preciso implantar políticas para conter sobrecarga no sistema de saúde e 84% defendem que um protocolo para lidar com futuras crises sanitárias é um caminho de garantir boas perspectivas. O mesmo percentual acha necessário a criação de políticas para amenizar efeitos da pandemia na educação.

“A pesquisa reforça a necessidade de defender políticas públicas desenhadas e implementadas de forma intersetorial. Os fatores associados à possibilidade de abandono escolar, por exemplo, são múltiplos: necessidade de ganhar dinheiro, dificuldades para se organizar, acompanhar e aprender no contexto do ensino remoto, necessidade de cuidar de filhos e outros parentes, problemas de saúde, incluindo depressão. A evasão escolar gera consequências severas para jovens, que vivem menos, com menos saúde, com menos renda ao longo da vida. Essa violação do direito à educação gera uma perda de R﹩ 220 bilhões por ano, 3,3% do PIB. Em tempos de crise sanitária e econômica, observamos que a agenda educacional é prioritária, é urgente”, completa Rosalina Soares, gerente de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho.

Divulgação dos resultados

Os resultados da pesquisa foi lançado no festival Atlas das Juventudes, no último sábado dia 12 de junho.

Assessoria de Imprensa

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