Área desmatada ainda supera o tamanho do Distrito Federal, alerta pesquisa
O desmatamento no Cerrado registrou queda de 33% em 2024 em comparação ao ano anterior, de acordo com dados divulgados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), projeto do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). No último ano, 712 mil hectares de vegetação foram suprimidos, contra 1 milhão de hectares desmatados em 2023.
Apesar da redução, especialistas ressaltam que os números ainda são preocupantes. O total de área destruída em 2024 equivale a uma extensão superior ao território do Distrito Federal.
“A queda do desmatamento no Cerrado em 2024 possivelmente reflete os efeitos de políticas de combate e controle implementadas no último ano. No entanto, os números continuam elevados quando analisamos a série histórica e comparamos com outros biomas, como a Amazônia. No mesmo período, por exemplo, a Amazônia teve 380 mil hectares desmatados, quase duas vezes menos do que o Cerrado”, afirma Fernanda Ribeiro, pesquisadora do Ipam e coordenadora do SAD Cerrado.
Desmatamento avança em áreas privadas
Atualmente, cerca de 62% da vegetação nativa do Cerrado está dentro de propriedades rurais privadas, sob as regras do Código Florestal, que permite o desmatamento de até 80% dessas áreas. O maior volume de desmatamento em 2024 ocorreu justamente nessas propriedades.
Na Amazônia Legal, o limite permitido por lei é de 20% da área. Segundo o Ipam, essa diferença legal expõe o Cerrado a riscos maiores, como secas prolongadas e eventos climáticos extremos.
Os dados do SAD Cerrado acompanham uma tendência de queda já registrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apontou a primeira redução no desmatamento do bioma em cinco anos, no período de agosto de 2023 a julho de 2024. O levantamento do Inpe foi feito pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento no Cerrado por Satélite (Prodes Cerrado), utilizando imagens com precisão de 10 metros.
Matopiba concentra 82% do desmatamento
A região do Matopiba, formada por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentrou 82% do desmatamento total no Cerrado em 2024, com a perda de 586 mil hectares de vegetação nativa. A área é conhecida pela expansão de lavouras agrícolas, que tem pressionado as áreas naturais do bioma.
Entre os estados, o Maranhão liderou a lista, mesmo com uma queda de 26% no desmatamento. O estado perdeu 225 mil hectares, representando um terço de todo o Cerrado desmatado em 2024. Em seguida, vêm o Tocantins, com 171 mil hectares desmatados (-26%), o Piauí, com 114 mil hectares (-12%), e a Bahia, com 72 mil hectares (-54%).
Fernanda Ribeiro destaca que o Matopiba possui o maior número de propriedades privadas com vegetação nativa ainda passível de supressão legal, o que torna a região especialmente vulnerável.
“A mudança desse cenário exige mais do que políticas de combate e controle. É necessário maior engajamento do setor privado e o uso de instrumentos de ordenamento territorial e econômicos, como os aplicados na Amazônia”, afirma a pesquisadora.
Municípios críticos e áreas protegidas sob ameaça
Os 10 municípios com maior índice de desmatamento em 2024 estão localizados no Matopiba, com destaque para Balsas (MA), Alto Parnaíba (MA), Mateiros (TO) e Ponte Alta do Tocantins (TO), que juntos somaram 61 mil hectares desmatados — cerca de 10% da área total perdida na região.
Além das propriedades privadas, áreas sem posse definida foram responsáveis por 10% do desmatamento. Unidades de conservação também foram afetadas, correspondendo a 5,6% do total, com 39 mil hectares desmatados. Entre as áreas protegidas mais atingidas estão a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, que perdeu 12 mil hectares, e o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, com 6,7 mil hectares destruídos.
Monitoramento por satélite e precisão dos dados
O SAD Cerrado monitora mensalmente o desmatamento utilizando imagens de satélites do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia. Os alertas são confirmados por meio de registros consecutivos da mesma área com intervalo mínimo de dois meses. Relatórios detalhados por estado, município e situação fundiária estão disponíveis no site oficial do projeto.
A continuidade do monitoramento e a ampliação de políticas públicas são consideradas cruciais para reduzir ainda mais o desmatamento no Cerrado, protegendo o bioma de danos irreversíveis.