Crise na Hidrovia Paraguai-Paraná prejudica economia de MS, diz empresário

O Rio Paraguai foi um dos assuntos debatidos ontem em evento sobre hidrovias

A escassez hídrica e a paralisação da navegação na Hidrovia Paraguai-Paranã estão causando um grande impacto na economia de Mato Grosso do Sul. A falta de dragagem, fundamental para garantir a navegabilidade do rio, gera um impasse entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental do Pantanal.

A crise hídrica que assola o Centro-Oeste tem levado o nível do Rio Paraguai a níveis críticos, paralisando a navegação e prejudicando diversos setores da economia. Em Mato Grosso do Sul, a situação é ainda mais grave, com empresas do setor portuário e mineradoras sofrendo com a interrupção do transporte fluvial.

Em evento realizado ontem em Brasília, chamado Diálogos Hidroviáveis, o secretário Nacional de Hidrovias e Navegação, Dino Antunes, afirmou que o plano é intervir somente no chamado tramo sul do Rio Paraguai, trecho abaixo de Corumbá, não havendo intenções em relação ao tramo norte, rumo ao Mato Grosso. Para empresários presentes ao evento, a falta de navegação, que foi suspensa por conta da estiagem severa, a economia se retrai sem a possibilidade do transporte hidroviário.

O CEO da Granel Química, Edson Souki, informou que a empresa mantém um porto na região de Ladário que está sem operar desde agosto. Conforme ele, há condições estruturais para embarque de minério, grãos e líquidos, como óleos, no entanto, tudo está paralisado.

A capacidade chega a 8 milhões de toneladas, não alcançada diante das limitações de navegação. Já se alcançou a média de 6 toneladas. Mas, neste ano, o transporte atingiu de 200 a 30 mil toneladas, segundo disse durante o evento.

O Governo Federal, por meio do DNIT, planeja realizar dragagens em seis pontos do leito do rio para restabelecer a navegabilidade. No entanto, o processo está sendo adiado devido à exigência do Ibama de um estudo de impacto ambiental mais detalhado.

A paralisação da navegação tem gerado prejuízos significativos para empresas como a Granel Química, que possui um porto em Ladário e viu sua capacidade de transporte reduzida drasticamente. A empresa, que transporta minério, grãos e outros produtos, alerta para a importância da interligação modal e defende uma solução rápida para o problema.

A LHG Mining, por sua vez, destaca a importância da hidrovia para o escoamento da produção de minério de ferro de alta qualidade na região de Corumbá. A empresa já investiu bilhões de reais em novas barcaças e empurradores, mas vê seus planos comprometidos pela falta de navegabilidade.

A dragagem, embora fundamental para a retomada da atividade econômica, gera preocupações ambientais. Ambientalistas alertam que a intervenção no leito do rio pode causar danos irreversíveis ao Pantanal, alterando a velocidade das águas e prejudicando a formação de alagados, essenciais para a biodiversidade do bioma.

O impasse entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental exige uma solução urgente e equilibrada. É necessário encontrar uma forma de garantir a navegabilidade do rio sem comprometer a integridade do Pantanal.

Corumbá tem várias mineradoras pra a extração de minério de ferro e manganês. A unidade da Vale foi adquirida pelo Grupo J&F, que recentemente adotou o nome LHG Mining, e aposta em investimentos bilionários para ampliar a produção.

Diretor da empresa, Darlan Carvalho, mencionou a obtenção recente de financiamento de R$ 3,7 bilhões para o setor de logística do grupo para a construção de 400 barcaças e 15 empurradores para uso na hidrovia. Ele destacou haver minério na região com a “melhor qualidade do mundo”, retirado em pedras grandes, chamadas “lamps”, para justificar a aposta da empresa em ampliar produção. Ele detalhou os investimentos da empresa, com a contratação de estaleiros no Norte, Bahia, São Paulo e Santa Catarina. Essa etapa gerará 5 mil empregos.

Concessão de hidrovias

O Governo Federal tem seis projetos prioritários de hidrovias tramitando na Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). O evento realizado ontem acabou se concentrando mais em rios do Amazônia, onde o transporte fluvial acaba sendo a único meio em muitas regiões.

O diretor da agência, Alber Vasconcelos, apresentou detalhes do andamento do projeto de concessão da Hidrovia do Rio Paraguai e apontou que a expectativa é que esses documentos sejam entregues à ANTAQ, pela Infra S.A., que também integra o Governo Federal, até o final do ano. No evento, chegou-se a debater a possibilidade de a União repassar ao setor privado depois de resolver questões de licenciamento ambiental, porque teria mais condições de agilizar os procedimentos.

O diretor lembrou que com as concessões de hidrovias resultarão em economia com o transporte de cargas, reduzindo o custo do produto final, além de ser até cinco vezes menos poluente que o transporte rodoviário.

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