Cinco anos de memórias: AACC/MS abre Cápsula do Tempo e relembra tempos de incertezas durante a pandemia

Reencontro com o passado trouxe à tona a emoção e a fé na jornada de cura

Na tarde do dia 23 de abril, a Casa de Apoio da Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC/MS) foi tomada pela emoção com a abertura de uma cápsula do tempo que permaneceu enterrada por cinco anos no jardim da instituição. A iniciativa, que reuniu crianças, mães e colaboradores em 2020, foi criada em um dos momentos mais difíceis já vividos na casa: o enfrentamento conjunto do câncer infantojuvenil e da pandemia de Covid-19.

“A ideia da cápsula surgiu porque, naquela época, estávamos lidando com dois grandes desafios. O câncer, que por si só já assusta, e a pandemia, que trouxe ainda mais receio para todos nós”, lembra Rosângela Machado, coordenadora e assistente social da AACC/MS.  Com as brinquedotecas fechadas, o trabalho voluntário suspenso e parte da equipe atuando remotamente, a ideia da cápsula surgiu como uma forma de projetar o futuro e preservar os sentimentos daquele tempo. “Colocamos cartas, desenhos, máscaras, luvas, coelhinhos de Páscoa, porque não conseguimos fazer a festa, mas espalhamos patinhas pela casa como símbolo de esperança. Queríamos, de alguma forma, trazer flores para aquele jardim que vivia um tempo de medo”, conta Rosângela.

Foram guardadas cerca de dez cartas, escritas por pacientes, mães e funcionários. A abertura, inicialmente prevista para o dia 8 de abril, foi adiada para garantir a presença de Matheus, um dos assistidos que participaram da criação da cápsula. Agora com 17 anos, ele esteve na AACC/MS ao lado da mãe, Glícia Soares, e representou muitos dos que viveram aquele período.

“É preciso ter fé. O câncer infantojuvenil tem cura. Meu filho chegou aqui com 12 anos e hoje faz apenas exames de rotina. Viver tudo isso e estar aqui agora é uma grande vitória”, disse Glícia.

A emoção foi compartilhada por todos. “Nem lembrava o que eu tinha escrito. Mas lembro da carga emocional daquele tempo. A gente tinha medo de levar o vírus para a Casa de Apoio, medo de alguma criança aqui pegar Covid. Era muito difícil. Algumas mães até comentaram: ‘Que pena que meu filho não vai participar dessa história, porque a história dele foi diferente’. E é verdade. Por isso sempre digo: vamos fazer o hoje, porque o amanhã a gente não sabe”, reforçou Rosângela.

Ao final do reencontro, ficou a lembrança de um tempo difícil, mas também a certeza de que o cuidado, o acolhimento e a esperança seguiram firmes, mesmo nos dias mais incertos. “A doença ainda é cercada por muito tabu, muitas vezes vista como sinônimo de morte. Mas hoje, com diagnóstico precoce, já alcançamos 70% de cura”, concluiu Rosângela, lembrando que o caminho da superação também é feito de memórias, coragem e fé no futuro.

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