Cientistas do Inca alertam para desinformação sobre câncer

Redes sociais não facilitam a distinção entre informação baseada em evidências científicas e desinformação

Pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca) emitiram um alerta sobre o avanço da desinformação relacionada ao câncer, especialmente nas redes sociais. Segundo um artigo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia, a chamada “infodemia do câncer” representa uma ameaça crescente, ao propagar rapidamente informações falsas sobre as causas, prevenção e tratamento da doença.

O conceito de infodemia, popularizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) durante a pandemia de Covid-19, refere-se à disseminação massiva de informações de saúde — corretas ou não. “Infodemia é quando o fluxo de informações se intensifica de maneira abrupta, muitas vezes confundindo o público e dificultando a distinção entre conteúdo verdadeiro e falso”, explica o pesquisador Fernando Lima, um dos autores do artigo.

Redes sociais e o impacto da desinformação

De acordo com Lima, a incapacidade de as redes sociais filtrarem adequadamente as informações científicas cria um ambiente propício à confusão. “Essa desinformação pode influenciar negativamente decisões individuais de saúde, atrasando diagnósticos e tratamentos essenciais”, alerta.

O artigo aponta que a infodemia envolve mitos persistentes, como falsas associações entre a vacinação contra o HPV e o aumento dos casos de câncer de colo de útero. “Essa vacina, na verdade, é uma medida comprovada de prevenção, mas há desinformações alegando que ela seria prejudicial”, diz Lima.

Outro ponto destacado são os mitos sobre a segurança dos cigarros eletrônicos, erroneamente promovidos como uma alternativa segura ao tabagismo convencional. “Não há qualquer evidência de que eles sejam seguros, e, quando promovidos como tal, acabam gerando sérios riscos à saúde pública”, acrescenta o pesquisador.

A coautora do estudo, Telma de Almeida Souza, cita o exemplo da graviola, uma fruta frequentemente promovida como um suposto tratamento para matar células cancerígenas. “O tempo é um fator crucial para pacientes oncológicos. Quando eles são levados a confiar em soluções não comprovadas, podem perder a janela de tratamento adequado, o que compromete suas chances de recuperação”, explica.

Algoritmos e o capitalismo de vigilância

O artigo também discute o papel das plataformas digitais na amplificação da desinformação. De acordo com os autores, o chamado “capitalismo de vigilância” — modelo em que empresas de tecnologia lucram ao manter os usuários conectados e coletar dados — intensifica a disseminação de notícias falsas.

Os algoritmos dessas plataformas priorizam conteúdos sensacionalistas, criando o que os pesquisadores definem como “câmaras de eco”, nas quais informações incorretas se espalham rapidamente. “Esse processo de viralização aumenta as dúvidas na sociedade e dificulta o acesso a informações confiáveis”, afirma Lima.

Combate à desinformação: monitoramento e regulamentação

Para enfrentar o problema, os especialistas sugerem medidas como o monitoramento contínuo das informações divulgadas, respostas rápidas a conteúdos falsos e a responsabilização das empresas de tecnologia. “Precisamos fortalecer mecanismos institucionais para esclarecer a população e impedir que mitos comprometam o tratamento adequado. A regulamentação das redes sociais também é essencial para limitar os danos causados pela desinformação”, conclui o pesquisador.

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