O agrônomo José Antonio Rossato Junior destaca, em entrevista exclusiva, quais pontos merecem atenção
De acordo com a ONU, o mundo tem atualmente 8 bilhões de habitantes. Em 2054, daqui a 30 anos, a população global deve chegar a 10 bilhões. Esse contexto envolve, é claro, muitos desafios.
Em participação na Barchart’s Grain Merchandising and Technology Conference, nos Estados Unidos, o agrônomo José Antonio Rossato Junior, Conselheiro da Coplana – Cooperativa Agroindustrial, defendeu que o Brasil pode liderar uma importante agenda global, composta por segurança alimentar, questões climáticas, desigualdade social e transição energética.
O evento, organizado pela Barchart, teve como um dos principais objetivos apresentar tecnologias e soluções que ajudam na tomada assertiva de decisões durante o processo de comercialização de grãos. Com sede no coração do distrito financeiro de Chicago, a Barchart é líder global em tecnologia financeira, fornecendo dados de mercado e serviços para os setores financeiro, de mídia e de commodities em todo o mundo.
Confira a seguir os principais trechos da conversa com o presidente da Coplana:
Quais as suas impressões em relação a Conferência da Barchart?
Foi uma conferência de alto nível, com uma ampla discussão sobre importantes temas do agronegócio global, abordando principalmente questões relacionadas a produção e comercialização de grãos, bem como o potencial global de expansão na produção de alimentos. De uma forma geral, eu senti um grande interesse dos participantes pelo Brasil. Eles queriam entender o que está ocorrendo no Brasil, quais os nossos principais desafios, a presença de investimentos externos em nosso país e oportunidades de expansão.
Em relação a sua participação na Conferência da Barchart, quais aspectos sobre o Brasil você destacou?
O painel em que eu participei destacou uma visão internacional sobre a produção e comercialização de grãos. Nos últimos 25 anos, o Brasil cresceu 53% na área destinada a produção de grãos, mas com um incremento produtivo de 263%. Isso mostra a eficiência do agronegócio brasileiro, por meio da inovação e incorporação de novas tecnologias, que tem aumentado de forma significativa a produtividade, com base em ciência e pesquisa.
Dentro deste contexto, há uma grande expectativa para produção de grãos no Brasil nos próximos anos?
Nos próximos 11 anos, a expectativa é que o Brasil salte das atuais 300 milhões de toneladas de grãos para 600 milhões de toneladas de grãos. Temos uma área de pastagem total equivalente a 10 estados do Nebraska, e que representa 23% do território Brasileiro. Essa área pode ser utilizada para grãos, frutas, cacau, cana-de-açúcar, dentre outras. Temos potencial para crescer na produção de alimentos e liderar a agenda global.
Quais os principais pontos dessa agenda global?
Temos quatro grandes pontos centrais: a segurança alimentar, devido ao crescimento da população; a transição energética, impulsionada pela necessidade de migração para combustíveis limpos e renováveis; a desigualdade social, que foi ainda mais acentuada com a pandemia; e a questão climática, com o balanço de carbono que a industrialização da humanidade promoveu até aqui. O Brasil pode ser o protagonista e liderar essa agenda necessária e transformadora.
Para finalizar, quais os principais desafios do Brasil, para atender essa agenda global?Os principais desafios estão no pós-colheita. Ainda padecemos de infraestrutura e de investimentos. Evoluímos bastante na logística, mas estamos longe do que seria uma logística ideal. Os Estados Unidos transportam 13% da safra de grãos pela rodovia, enquanto o Brasil transporta 55%. Outro ponto importante: 54% dos produtores americanos tem armazenagem dentro da fazenda, enquanto somente 16% dos produtores brasileiros. Precisamos diversificar o transporte, utilizando mais o modal ferroviária e hidroviário e investirmos na armazenagem dentro da propriedade, bem como promover linhas de financiamento estratégicas e específicas para o crescimento do armazenamento pelas cooperativas agropecuárias. Será fundamental que a infra estrutura acompanhe o crescimento que a produção tem apresentado no campo, para que o Brasil possa se tornar ainda mais competitivo no contexto global.