Azambuja no PL: será que ele consegue convencer a direita que não tem culpa no cartório?

Com o avanço das investigações da Polícia Federal sobre esquemas de corrupção envolvendo desvios milionários de recursos da educação em Mato Grosso do Sul, o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB) se vê, mais uma vez, no centro de uma encruzilhada política e moral. Agora, às vésperas de uma possível migração para o PL (Partido Liberal) — legenda que se consolidou como a principal força da direita no país —, Azambuja precisará mais do que nunca convencer o eleitorado conservador de que não carrega em sua trajetória o DNA dos escândalos de corrupção que a Polícia Federal vem desvendando em Mato Grosso do Sul.

A mais recente operação, chamada Vox Vertratis, revelou um esquema pesado de desvio de recursos da educação. O mais grave: dinheiro do Fundeb, aquele fundo essencial para pagar professores, manter escolas e garantir o básico para a molecada estudar. Servidores públicos, que atuavam na Secretaria de Educação na época do governo de Azambuja, teriam montado um esquema para fraudar licitações e, claro, meter a mão em milhões de reais. Segundo a PF, os empresários envolvidos pagavam propina de 5% do valor dos contratos para garantir a “parceria” com o pessoal que estava dentro do governo.

É verdade: até agora, o nome de Azambuja não aparece diretamente nas investigações. Mas é inegável que tudo isso aconteceu debaixo do guarda-chuva da sua gestão, e isso já é suficiente para que o eleitorado conservador o olhe com desconfiança. Afinal, a corrupção na educação mexe com um tema sensível, que impacta milhares de famílias, professores e alunos.

Agora, imagine só: ele quer entrar para o PL, um partido que se vende como símbolo de combate à corrupção, defesa da moral e dos bons costumes. Não vai ser fácil colar esse discurso se, ao mesmo tempo, carrega uma gestão marcada por escândalos — e não é só esse. Vale lembrar que Azambuja também foi alvo da Operação Vostok, outra bronca da PF, envolvendo suposto pagamento de propina em troca de benefícios fiscais.

Azambuja pode até conseguir convencer as lideranças nacionais do PL, como o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente da partido, Valdemar Costa Neto. Pode posar para fotos, subir no palanque, receber o apoio político e o discurso oficial. Mas a realidade política em MS é bem diferente: o eleitorado conservador aqui é exigente e, principalmente, desconfiado de quem tem o nome atrelado a escândalos.

Prova disso foi a eleição municipal de 2024, em Campo Grande. O deputado federal Beto Pereira, também do PSDB e aliado de Azambuja, recebeu o apoio explícito de Bolsonaro. E o que aconteceu? Nem sequer foi para o segundo turno. Saiu do páreo com uma rejeição pesada, especialmente entre o eleitor conservador, que não comprou o discurso. Ou seja, o apoio de Bolsonaro, que muitos acreditavam ser um trunfo, não garantiu a vitória e nem a presença na reta final.

Esse episódio deixou uma lição clara: o apoio nacional pode até fazer barulho, mas não necessariamente se traduz em votos, especialmente quando há uma percepção local de desgaste político ou envolvimento — direto ou indireto — em escândalos.

O ex-governador tem uma longa estrada para percorrer se quiser se reposicionar como um político viável dentro da direita, que, convenhamos, não anda muito tolerante com quem tem o nome associado à corrupção.

O eleitorado conservador de hoje cobra mais do que apenas negar envolvimento. Quer ver responsabilidade, transparência e, acima de tudo, compromisso com as áreas mais importantes do serviço público. E não tem como negar: na gestão de Azambuja, a educação virou palco de fraudes milionárias.

Reinaldo Azambuja pode até mudar de partido, mas mudar a percepção pública será muito mais difícil. Para convencer de vez que não tem “culpa no cartório”, vai precisar mais do que discursos prontos. Vai ter que mostrar, com ações e fatos, que realmente não compactuou com o que aconteceu.

O tempo vai dizer se ele vai conseguir. Por enquanto, o eleitor segue de olho e mais atento do que nunca…

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