Alvo de ataques de Bolsonaro, China mantém embargo, derruba exportações e preço do boi

Alvo constante de ataques de ministros e do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), a China decidiu manter o embargo à carne brasileira e causou a queda de 17% no preço da arroba do boi gordo. As vendas de Mato Grosso do Sul para o gigante asiático caíram 34,7% em setembro – a US$ 11 milhões (R$ 62,2 milhões) a menos em relação ao mês de agosto deste ano.

O embargo chinês teve início no dia 4 de setembro deste ano após a confirmação de dois casos atípicos do mal da vaca louca nos frigoríficos de Minas Gerais e do Mato Grosso. No entanto, apesar do Ministério da Agricultura e Pecuária ter notificado que não há mais riscos e a situação está sob controle, a China manteve o embargo, que completará dois meses nesta semana.

O primeiro impacto foi na queda do valor da arroba do boi gordo, que vinha batendo recorde sucessivos com a alta demanda. No Estado, no dia 25 de agosto deste ano, o produtor estava recebendo R$ 315 pela arroba. Na região central, o valor estava em R$ 314, conforme o sistema de monitoramento da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul).

Houve queda de 17,4% no valor da arroba, que estava cotada a R$ 258,17 na sexta-feira (29). Na região de Campo Grande, o custo oscilou 12,4%, de R$ 309,29 para R$ 270,88. No entanto, a redução não vem sendo repassada na mesma velocidade ao consumidor.

As exportações de carne de Mato Grosso do Sul para a China somaram US$ 17,4 milhões em setembro deste. Em relação ao mês de agosto, quando o total vendido somou US$ 28,4 milhões, houve redução de 40%. O embargo acabou com a ampliação expressiva nas vendas para o país asiático. O aumento de agosto em relação ao mesmo período do ano passado foi de 347%. Já em setembro, o crescimento ficou em 46%, já refletindo o embargo comercial.

“A China é o nosso maior comprador. Quando temos o nosso maior mercado com possibilidades de embargo, isso acaba gerando uma acumulo de carne nos frigoríficos, pois sua produção estava direcionada para esse mercado. Os números mostram uma redução nos embarques em setembro de 2021 comparando com agosto”, explica o consultor e especialisat em comércio exterior, Aldo Barrigosse.

“A estratégia da China com esse embargo é comercial, com objetivo de forçar uma redução nos preços da carne bovina, que tiveram uma escala durante a pandemia. Ela é um grande mercado e sabe do seu poder de compras”, avaliou. “Esse momento de embargo logo, logo será normalizado e nossos embarques de carne bovina deverão voltar a sua normalidade”, acredita.

O economista não atribui o prolongamento do embargo como político em relação aos constantes ataques feitos pelo presidente, seus filhos e ministros ao gigante asiático. Bolsonaro chegou a insinuar que os chineses estariam promovendo guerra química com o coronavírus. “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou por algum ser humano [que] ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês”, disparou o presidente, sem apresentar provas ou evidências contra os chineses.

“Até os foguetes da Nasa já são privados. Estado quebrou, não consegue mandar todo ano um homem para lua. Estados Unidos têm indústria forte. Chinês inventou o vírus e a vacina dele é pior que a americana. Toma aqui a Pfizer”, afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, contribuindo com a artilharia contra o principal cliente dos pecuaristas sul-mato-grossense.

“Da China não compraremos. Não acredito que ela transmita segurança para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso”, garantiu Bolsonaro em outro bombardeio contra o país comunista. “A da China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população. Até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido lá”, acusou.

O analista da Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, atribuiu a queda no preço do boi gordo ao embargo chinês. “Os prejuízos são enormes para a atividade. Pecuaristas e frigoríficos trabalham no momento para minimizar os danos causados pelo embargo”, explicou.

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