A confirmação do primeiro foco de gripe aviária de alta patogenicidade (H5N1) em uma granja comercial do Brasil, localizada em Montenegro (RS), provocou reações imediatas no setor avícola nacional. A China e a União Europeia suspenderam as importações de carne e ovos de frango brasileiros por um período de 60 dias, conforme previsto nos contratos firmados com o Governo Federal.
A confirmação de influenza aviária ainda deve gerar restrição de importações por Argentina, Reino Unido, Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes de carne de frango do Rio Grande do Sul, por causa das condições negociadas com o Brasil.
Embora o caso tenha ocorrido no Rio Grande do Sul, os efeitos da decisão repercutem diretamente em Mato Grosso do Sul, um dos grandes polos exportadores de proteína animal do país. Segundo o diretor-presidente da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), Daniel Ingold, o Estado segue livre da doença, mas já adotou medidas de monitoramento e se colocou à disposição para apoiar as ações de contenção no Sul do país.
“Esse é o primeiro caso em aves comerciais. A defesa foi acionada e realizou o despovoamento da área, com abate dos animais e desinfecção completa. Também foi iniciado um controle epidemiológico num raio de dez quilômetros”, explicou Ingold
Apesar de o caso estar concentrado no Sul do país, os protocolos internacionais estabelecem restrições rígidas. A China, que tem grande participação no mercado sul-mato-grossense, suspendeu automaticamente as compras. O Japão, outro importante parceiro comercial, já negocia com o Brasil a possibilidade de compartimentar as restrições, limitando-as apenas ao Rio Grande do Sul ou, em um segundo momento, à região de Montenegro.
“Hoje, cerca de 70% a 80% das aves produzidas aqui em Mato Grosso do Sul têm como destino o Japão. A China também é um mercado expressivo. Estamos acompanhando de perto e aguardando definições. Nosso papel agora é manter a vigilância e colaborar com as defesas estaduais e federal”, afirmou o dirigente.
Segundo ele, a Iagro reforçou a atuação da inteligência geográfica e territorial para identificar e reagir rapidamente a qualquer eventualidade no Estado. “Temos uma estrutura robusta de defesa sanitária preparada para atuar em emergências como esta”, reforçou Ingold.
O diretor-presidente também destacou que não há risco no consumo de carne de frango ou ovos. “É importante frisar que esse vírus não é transmitido por meio da carne ou dos ovos. O risco de contaminação está restrito ao contato com aves infectadas, principalmente para trabalhadores que atuam diretamente na produção. Portanto, o consumo segue seguro.”
Alerta epidemiológico e vigilância sanitária
Para o infectologista Klinger Faíco, a confirmação do primeiro foco de H5N1 em uma granja comercial no Brasil altera de forma significativa o cenário da gripe aviária no país. “Até então restrito a aves silvestres, o vírus agora entra no setor produtivo, o que amplia o risco de disseminação e requer vigilância rigorosa.”
Apesar da baixa probabilidade de transmissão para humanos, o especialista alerta para o potencial de mutações do vírus em ambientes de alta densidade animal: “Ainda não há transmissão sustentada entre humanos, mas o vírus da influenza tem um histórico de mutações rápidas. Todo surto deve ser tratado com seriedade e sob a perspectiva de saúde única (One Health).”
Já o nutricionista Emerson Duarte reforça que não há risco no consumo de carne de frango e ovos devidamente inspecionados e preparados. “A gripe aviária não é transmitida por meio da ingestão de produtos avícolas. A população pode continuar consumindo carne de frango e ovos com total segurança, desde que adquiridos de fontes confiáveis.”
Duarte ressalta que o Brasil mantém um dos sistemas sanitários mais rigorosos do mundo, com inspeção oficial, vigilância ativa e protocolos internacionais: “Mesmo diante de um foco isolado, o Brasil age com máxima agilidade e transparência. O consumidor pode manter seus hábitos de consumo com tranquilidade e confiança.”
Exportações e impactos
O Estado é o 7º maior produtor e exportador de carne de frango do país, com um rebanho de 134 milhões de aves, e exportações que ultrapassam US$ 359 milhões. Municípios como Sidrolândia, Dourados, Ivinhema e Glória de Dourados têm papel relevante na produção, e a organização sanitária é apontada como um dos pilares da competitividade de Mato Grosso do Sul.
Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 10 bilhões em carne de frango, representando aproximadamente 35% do comércio global. A suspensão temporária das exportações pode afetar significativamente as grandes empresas do setor e os estados com forte atuação no mercado externo.
A granja em que foi detectado o vírus no Rio Grande do Sul é voltada à reprodução animal. O Ministério da Agricultura decretou emergência zoossanitária no município e está atuando para conter a disseminação do vírus e garantir que as exportações de outros estados, como MS, possam ser retomadas o quanto antes.
Djeneffer Cordoba e Suzi Jarde