Em meio ao período de recessão econômica, o agronegócio vem “salvando” as finanças em Mato Grosso do Sul e representando saldos positivos, não contabilizados em outros setores. Até mesmo na geração de empregos, foi a área responsável pela maioria das vagas criadas no mês passado. Uma das consequências, é a valorização de terras, que chegou a pelo menos 183% apenas nos últimos seis anos, conforme levantamento feito pela reportagem. Estudo anterior, feito pelo Ministério da Agricultura, apontava percentual ainda maior: 586% no período de 11 anos, o que deixou Mato Grosso do Sul com a segunda maior valorização do País.
Neste ano, a balança comercial de Mato Grosso do Sul fechou pelo sétimo mês consecutivo com superavit, contabilizando saldo de US$ 185,13 milhões em julho e acumulado de US$ 1,415 bilhão neste ano. As exportações somaram US$ 2,709 bilhões, com destaque para celulose. E é justamente o início da exploração de floresta plantada – impulsionada pelas gigantes do setor de celulose instaladas no Estado – que favoreceu a valorização das propriedades em determinadas regiões. Em outras, a simples expansão agrícola acabou motivando o aumento dos preços. Terra representa hoje um bem que dificilmente sofre depreciação, ao contrário do que ocorre, por exemplo, com uma casa que pode perder valor de mercado ao longo dos anos e depende muito do avanço de determinadas regiões para “ganhar preço”.
É praticamente um investimento certo, mas que, há muito tempo, deixou de ter como principal intuito a especulação imobiliária. Hoje, há procura de áreas por quem deseja produzir, investir e lucrar. Fica a sensação, porém, de que as riquezas produzidas em território sul-mato-grossense poderiam ser ainda mais significativas. Em março deste ano, o Governo do Estado lançou programa com meta de recuperar, em cinco anos, o potencial produtivo de dois dos oito milhões de hectares de pastagens que apresentam algum grau de degradação. Em troca, o produtor seria beneficiado com incentivos. Entretanto, até agora não há divulgação de adesão significativa ao novo projeto.
Ainda, há muito potencial a ser explorado, principalmente ao considerarmos a agricultura familiar. Há anos, 80% da produção de hortifrutis de Mato Grosso do Sul depende de outros estados porque não damos conta de atender a demanda local. Não é por falta de espaço. Certamente, precisaria mais incentivo e até assistência para que agricultores iniciassem as atividades. Assim, vagas de emprego e até receita para o Estado seriam geradas.
A valorização das terras, aliada a sua importância econômica e social, também nos leva a outra reflexão. O perigo que representa a possibilidade de flexibilizar a venda de terras a estrangeiros. Na verdade, os gestores deveriam estar mais preocupados em fomentar a produtividade local, impulsionando investimentos e gerando oportunidades aos brasileiros, sem medidas que possam comprometer a posse de nosso território e as gerações futuras.