A PERGUNTA: quando é que o político deve deixar a vida pública e se recolher à família e atividades inerentes à idade? A morte do ex-senador Luiz Henrique aos 75 anos, após 44 anos de militância e exercício de cargos oportuniza a abordagem.
IMAGINO: Há tempos ele não sabia o que era ficar na fila do supermercado, banco ou andar na rua para tomar um café como simples mortal! É como digo: depois de eleitos os políticos vivem apressados e com o celular a vida deles ficou ainda pior.
OS POLÍTICOS teimam em não aceitar o conselho de Douglas Malloch, de que “ não podemos ser todos capitães… alguns temos de ser tripulação”. Todos eles querem ser o pinheiro no alto da serra, ninguém quer ser um simples arbusto no vale.
O TEMA é controverso, pois essa atividade é liberta de regras e conceitos. Depende das condições, da personalidade, carisma e apego ao poder que tanto fascina o homem no mundo em todas as épocas. Desapegar do poder é um desafio doído. Se é!
IMPERADOR Diocleciano é exceção. Largou o trono e exilou-se num sítio cultivando legumes. Um dia seu pessoal apareceu pedindo sua volta. Ele respondeu: “Pensei que quisessem ver meus repolhos e vocês vem falar de política! Por favor, não!”
NADA contra a longevidade política, mas Luiz Henrique vivia a política desde 1971. Deputado estadual, deputado federal 5 vezes, prefeito de Joinville 3 vezes, governador por dois mandatos e senador desde 2011 com mandato até 2019. Sem limites?
AS VEZES esse apego aos holofotes é justificada pela ‘experiência e equilíbrio’, indispensáveis na vida pública. Paulo Brossard, Pedro Simon, José Sarney, Tancredo Neves, ACM e Arraes são algumas figuras que se confundiram com o poder.
O EX-PRESIDENTE Jimmy Carter – por exemplo – no alto de seus 90 anos – viaja pelo mundo na defesa de causas justas. Mas existe o outro lado; ele é beneficiado massageando o próprio ego ao ser reverenciado. É assim que funciona.
IRONIA Aos 47 anos de idade Bill Clinton chegou a Casa Branca e aos 55 anos já teve que se contentar com a condição de ex-presidente e simples marido de senadora. Carismático, sem lugar no cenário. Incrível: é vítima da própria precocidade.
LONDRES Machado. E agora? Registrar as memórias dos 11 mandatos, cultivar os ‘hobbies’, amigos ou dedicar-se as atividades, das quais nem depende financeiramente? Quem o conhece diz que ele já fez a leitura sábia e sensata desse novo tempo.
ANDRÉ Até que tenta, mas faltar-lhe o cacoete de avô. Bastou pouco tempo para botar as ‘mangas de fora’. Está aí se reinventando para não ser excluído do cenário que tem nas eleições da capital o primeiro teste. A inquietude ainda é sua marca.