A Petrobras perdeu 13,90 bilhões de reais em valor de mercado apenas nesta quarta-feira, quando os investidores reagiram à divulgação atrasada do balanço financeiro da empresa referente ao terceiro trimestre. De acordo com levantamento da Economatica, o valor de mercado da estatal passou de 128,71 bilhões de reais na terça-feira para 114,81 bilhões de reais nesta quarta-feira, um recuo de 10%.
Na BMF&Bovespa, as ações da petroleira fecharam em dia em forte queda – 10,48% ON e 11,21% PN -, incorporando a decisão da empresa de não contabilizar agora as perdas contábeis de ativos no âmbito da investigação da Operação Lava Jato. Desde a deflagração da operação, em março do ano passado, a empresa já perdeu 45,06 bilhões de reais em valor de mercado.
Para Luiz Pereira, estrategista da Guide Investimentos, a questão da Petrobras ter divulgado seu balanço seu o aval da auditoria externa, a PricewaterhouseCoopers (PwC) não foi o que mais pesou para os investidores. Segundo ele, o pior foi a falta de informações sobre as baixas. “Os investidores ficaram sem as informações mais esperadas e queriam um balanço mais claro”, comenta.
Em sua opinião, a indefinição sobre a metodologia a ser usada para mensurar o quanto deve ser reajustado para baixo seus ativos pressiona ainda mais os papéis da empresa. “O cenário é de cautela. Não deverá ocorrer uma ‘debandada’ de acionistas no momento, pois isso já aconteceu no passado, quando as ações da empresa registraram fortes quedas. Mas a alta volatilidade permanecerá, sem prazo para acabar”, avalia.
No balanço, a Petrobras informou que ainda não chegou a uma metodologia que reflita a real perda de seus ativos por conta de contratos corruptos revelados pela Lava Jato. Foi testada, por exemplo, a avaliação do valor real de 52 empreendimentos, avaliados em 188,4 bilhões de reais no imobilizado atual. Verificou-se que 31 deles estavam supervalorizados em 88,6 bilhões no total, ou seja, que valem hoje menos do que consta em seu balanço. Porém, a estatal descartou essa metodologia porque acredita que ela pode incorporar ativos que nada têm relação com esquemas de corrupção e não representar a real dimensão das perdas com a Lava Jato.
Segundo o advogado Robertson Emerenciano, sócio do escritório Emerenciano, Baggio Associados, há poucas maneiras de fazer essa conta, mas reitera que a Petrobras precisa resolver isso o quanto antes para ganhar confiança do mercado, de seus credores e também conseguir que a auditoria externa aprove suas contas. “Este não é um balanço que reflete formalmente a situação da companhia, é meramente formal; foi divulgado basicamente para atender aos prazos da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e da SEC (agência que regula o mercado de capitais nos EUA, onde a Petrobras tem ações)”, pontua Emerenciano.
Pela metodologia do valor justo, as perdas líquidas seriam de 61,4 bilhões de reais, já que há 27,2 bilhões a serem creditados em ativos subvalorizados. Segundo o advogado, um ajuste dessa magnitude não é normal e tem motivos para repercutir negativamente. "O valor é muito grande. Ainda há dúvidas sobre quando serão contabilizadas essas perdas e em que medido o acionista controlador – o governo – vai adotar um critério razoável", diz.