A prática é recorrente na passagem das gestões públicas e, muitas vezes, torna-se problema crônico nas cidades: administradores deixam obras para que sejam finalizadas pelos sucessores que, por vários motivos, acabam deixando pelo caminho verdadeiros elefantes brancos. Ontem, o ministro dos Transportes, Maurício Lessa, disse que um desses ícones da procrastinação – a obra do anel viário – deve ser submentido a fiscalização da Controladoria Geral da União. É projeto que arrasta-se desde 2004, passando pela mão de quatro prefeitos e ainda não foi finalizado.
Em Campo Grande, há vários exemplos de como a falta de planejamento, de recursos e entraves burocráticos podem transformar a paisagem de uma cidade. Na região do Cabreúva, a população acostumou-se a ver a “antiga nova rodoviária”, obra que arrasta-se há 21 anos e já consumiu.
R$ 5,471 milhões até dezembro de 2013. Desde que a obra foi abandonada, outra rodoviária foi construída; o prédio que nunca foi usado para a destinação deveria ser o Centro Municipal de Belas Artes. A maldição continuou pairando sobre o projeto e, até agora, nada foi feito. Segundo o Ministério do Turismo, há dois contratos em vigor e a prefeitura tem até 2010 para utilizar a verba federal disponível, do contrário, terá que devolver os valores à União.
Nas áreas da Saúde e Educação – em que há cobrança maior de investimentos da população – o abandono se repete. Na Capital, a lista de obras inacabadas ainda abrange unidade de saúde, Centros de Educação Infantil (Ceinfs), centros de lazer e praças. Recentemente o Correio do Estado mostrou a situação de algumas desses esqueletos espalhados pela cidade, como no Parque do Sol e Jardim Noroeste. Das seis praças em construção, apenas uma foi entregue, no bairro Novo Sergipe.
Dos emblemáticos elefantes brancos que assombram Campo Grande, um teve solução graças à iniciativa privada. Na década de 1990 havia projeto de construir Central de Comercialização em terreno às margens na avenida Ernesto Geisel.
A obra foi interrompida em 1992, no governo Pedro Pedrossian, retomada posteriormente e, suspensa novamente, em 1996, na gestão de José Orcírio. O projeto foi alterado para construção de Parque Multifuncional do Produtor, com investimento de R$ 1,3 milhão e previsão de gerar 2,5 mil empregos diretos e indiretos.
A expectativa virou frustração para produtores e moradores da região, que sofriam com a insegurança. Somente a construção de shopping tirou a área do abandono e ostracismo, possibilitando desenvolvimento benéfico para o entorno.
Não se pode esperar que a iniciativa privada seja o salvador da pátria em situações como essa, principalmente em período de recessão econômica. O legado não pode tornar-se um fardo para os gestores que assumem as administrações. O que se espera é coerência e planejamento, para que tenham em caixa a contrapartida obrigatória, necessária para que o projeto seja finalizado com apoio de recursos federais. Do contrário, é como jogar fora milhões em valores que jamais serão recuperados.