EUA acusam Irã de violar acordo nuclear

Os Estados Unidos apresentaram, na última sexta-feira (15), uma série de armas que, segundo o governo americano, foram fabricadas pelo Irã e recolhidas em campos de batalha do Iêmen. Para a administração do presidente Donald Trump, esta é uma "prova concreta" da violação por parte do Irã das resoluções da ONU.

Teerã negou fornecer armas para os rebeldes houthis, contrários ao governo apoiado pelos sauditas, no Iêmen. A embaixadora dos EUA na ONU (Organização das Nações Unidas), Nikky Haley, ressaltou que, segundo as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, pelo acordo nuclear de 2015 com o Irã, o país está proibido de negociar armas sem autorização do órgão. As informações são do site Debka.

Tal iniciativa dos Estados Unidos, de denunciar o que o país considera uma violação do Irã, tem por objetivo evidenciar a estratégia da nação persa neste novo cenário do Oriente Médio.

Que, com a derrocada do Daesh (conhecido como Estado Islâmico), mudou muito e em poucos dias, segundo Ricardo Gennari, professor de Inteligência da Fipe (Fundação Estudos de Pesquisas Aplicadas), da Universidade de São Paulo. Isto porque o Irã, que inclusive lutou contra o grupo, buscava um domínio maior após os combates.

— Mesmo com o Daesh sendo sunita, a sua perda de territórios no Iraque e na Síria acabou prejudicando o Irã, que queria manter a influência e quem sabe o controle desses países. Mas as forças aliadas, comandadas pelos Estados Unidos é que ampliaram seu poder nessas regiões, aproximando-as inclusive da influência da Arábia Saudita, atual aliada dos Estados Unidos.

Gennari admite que pode estar havendo um processo de isolamento do Irã, justamente em um momento em que o país buscava aumentar suas alianças no Oriente Médio, compondo-se com desafetos sauditas, como o Catar.

— Em poucos dias, em função da derrota do Daesh e também da decisão do presidente Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, o cenário mudou no Oriente Médio. Havia uma divisão entre Irã, que apoia rebeldes no Iêmen, e Arábia Saudita. Mas, com esses fatos novos, o Irã está ficando sozinho, não diria isolado, diria que perdendo o controle e deverá rever sua estratégia.

Até mesmo foi cogitado, pelo jornal Le Monde, que a Arábia Saudita tivesse um acordo com os EUA para reconhecer Jerusalém como capital israelense, algo que o governo saudita nega. Se tal apoio for verdadeiro, seria praticamente uma manobra que daria muito mais status para a Arábia Saudita e seus aliados na região.

Mas se não for, o Irã continua com as mesmas dificuldades territoriais. Gennari levantou um ponto interessante, em relação ao reconhecimento de Jerusalém como capital israelense. Tal fato, por induzir os países islâmicos a se unirem contra a declaração, acaba dificultando a estratégia iraniana, baseada, de acordo com o especialista, na divisão dos países árabes.

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