Historicamente, a política de incentivos fiscais para atrair novas indústrias a Campo Grande apresenta falhas. Isenções são concedidas a empresas que ficam apenas no papel. Terrenos continuam desocupados ou no máximo contam com a “pedra fundamental”, lançada por gestores. Há ainda o agravante de, em alguns casos, existir a brecha para que a área cedida seja utilizada para garantir empréstimos com instituições financeiras, justamente para viabilizar o empreendimento. Assim, o novo empresário recebe todas as condições para iniciar seu investimento, a despeito daqueles que lutam diariamente, pagando devidamente seus impostos, para conseguir manter seu negócio e fechar o caixa no fim do mês, ainda mais em meio à crise econômica. Mesmo com todo esse cenário favorável, as novas fábricas não avançam além do patamar dos projetos.
Continuam só no papel, alimentando sonhos daqueles que lutam por uma oportunidade no mercado de trabalho, em meio ao cenário de recorde de desemprego.
Obviamente, a concessão de benefícios deve ser mais criteriosa, como alegou a prefeitura, diante das críticas acerca da estagnação na criação de novas indústrias. Entretanto, essa revisão necessária nas leis – que cabe também aos nossos vereadores – e a adoção de regras mais severas não servem como justificativa para abandonar as negociações visando fomentar o crescimento de Campo Grande no ramo industrial. É preciso avaliar novas áreas para ampliar as possibilidades de negociações. Ou, ainda verificar a possibilidade de reverter os equívocos cometidos anteriormente, acionando a Justiça caso haja necessidade para retomar as áreas que não estão sendo devidamente aproveitadas ou que os investimentos ficaram aquém do esperado.
A administração municipal não pode ignorar a necessidade de investir mais, principalmente ao mensurar os efeitos deletérios da recessão econômica. Somente de janeiro a abril deste ano, foram 742 vagas a menos ofertadas pela Fundação Social do Trabalho (Funsat) em Campo Grande. Neste contexto, desperdiçar chances de assegurar novos investimentos jamais poderá ser opção plausível. Está evidente a necessidade de rever a política de incentivos, marcada por graves falhas, mas isso não pode ser feito às custas da estagnação de investimentos.
Os polos industriais, aos poucos, acabam transformando-se em áreas desertas, seja pelo cenário de discrepâncias relatado acima ou pela inércia da Prefeitura de Campo Grande. Na atual administração, tornou-se impossível viabilizar novos projetos. Desde agosto do ano passado, quando o prefeito Alcides Bernal retornou ao cargo, novas propostas para indústrias não foram aprovadas. O Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico (Codecon), responsável por viabilizar a concessão de incentivos e auxiliar na expansão daqueles já instalados, está esvaziado e enfrenta crise de credibilidade, como mostra reportagem divulgada ontem pelo Correio do Estado. As cartas-consultas estão paradas e o empresariado já não vê utilidade em continuar com as reuniões ou apresentado projetos que não avançam.