Preocupa o avanço da vulnerabilidade social em Campo Grande, consequência da recessão econômica, do desemprego recorde, mas também do descaso constante do poder público. Famílias que não estão mais dando conta de arcar com as despesas de aluguel apelam para invasões a áreas públicas. O drama de quem precisou construir barraco às margens de rodovias nas saídas da cidade para, ao menos, ter um local para viver.
Aflição que se repete na Vila Romana, uma das mais recentes favelas da cidade, que abriga principalmente indígenas. Até agora, infelizmente, esses moradores não receberam qualquer assistência. Apenas, foram ameaçados e notificados pela prefeitura para deixarem o local. Ir para onde? Nem as famílias nem os gestores respondem a tal pergunta.
Certamente, a administração municipal tem o dever legal de preservar a posse de áreas públicas e destiná-las para atender toda a comunidade. Porém, na teoria, não parece haver tanto preocupação se considerarmos a quantidade de espaços cedidos para instalação de lanchonetes e até igrejas. Ainda em março deste ano, 600 concessões eram alvos de investigações do Ministério Público Estadual. Total disparidade entre os interesses reais da comunidade.
Promessas são feitas no período de campanha, quando as famílias carentes renovam as esperanças de contar com moradia digna, saúde e educação de qualidade, direitos assegurados na Constituição, mas descumpridos pelos gestores. As perspectivas são passageiras e utópicas. Dissipam-se pouco tempo depois que os administradores alcançam os cargos esperados.
O abandono na Vila Romana também suscita reflexõese cobranças acerca do papel da Fundação Nacional do Índio (Funai), que deveria prestar essa assistência. Grande parte das famílias da etnia terena saiu de aldeia em Aquidauana em busca de melhores condições de vida na Capital.
Decepcionaram-se ao não encontrarem as oportunidades esperadas. Somente neste ano, 1.992 vagas de trabalho foram fechadas em Campo Grande, repetindo a situação de dificuldades já encontrada no ano passado, quando o saldo também foi negativo. Essas famílias ficaram completamente desamparadas e muitas não tem acesso sequer aos benefícios sociais, concedidos pelos governos Federal e Estadual.