O polêmico sumiço de vacinas contra a gripe da rede pública de saúde de Campo Grande evidencia, no mínimo, a desorganização que predomina nos mais diversos setores administrados pela atual gestão municipal. Há discrepância de números, informações desencontradas e muitas perguntas sem respostas. O que mais indigna é saber que pessoas dos grupos prioritários (que inclui idosos, crianças de seis meses até 5 anos de idade, trabalhadores da saúde, indígenas e gestantes) acabaram sem as doses que foram devidamente repassadas pelo Ministério da Saúde e Governo do Estado. Onde foram parar? As respostas dependerão de investigações, que já começam a ser conduzidas pelo Ministério Público Estadual e sindicância. Infelizmente, mais uma vez, a população acaba prejudicada por mais esse descontrole das ações que deveriam ser conduzidas pelo poder público.
Há várias hipóteses. As doses podem ter sido aplicadas em pessoas fora das indicações estabelecidas pelo Ministério da Saúde – o que pode ser forte indício de favorecimento. Entretanto, também não pode ser descartada a possibilidade de que essas doses tenham sido desviadas e vendidas. Na semana passada, homem foi preso em Bela Vista comercializando doses de vacina H1N1 em uma farmácia. No rótulo do produto, estavam as indicações do Sistema Único de Saúde (SUS) e o informe sobre a proibição de venda. Seria esse um caso isolado? Diante do misterioso desaparecimento de doses na Capital, várias probabilidades precisam ser devidamente avaliadas.
Toda vez que alguém é imunizado no posto de saúde, a informação passa a constar no cadastro do SUS. Ou seja, seria fácil rastrear a destinação de todas as doses repassadas e esse seria o caminho inicial para tentar encontrar os “furos” na campanha de imunização. A confusão já estava explícita na última sexta-feira, quando dezenas de pessoas ficaram horas esperando por doses que não chegaram ao posto de saúde do bairro Tiradentes. Obviamente, todos gostariam de contar com doses gratuitas na rede pública, mas o Governo Federal ainda não alcança todos com a imunização. Outra falha que precisaria ser corrigida, diante do elevado número de casos. Assim, outras medidas de prevenção, como lavar frequentemente as mãos e evitar ficar ambientes fechados, podem ser tomadas.
Em todo Estado, 21 pessoas já morreram vítimas da gripe neste ano. Mesmo com esse dado alarmante, a negligência do poder público permanece. Além do sumiço das vacinas da rede pública de Campo Grande, também faltou medicamento, o chamado Tamiflu, para tratar as pessoas com sintomas da doença. Nesse caso, a deficiência estaria na quantidade insuficiente do remédio enviado pelo Ministério da Saúde. O Ministério Público Federal já foi acionado para apurar a falha.
A prefeitura da Capital instaurou sindicância e precisa dar resposta aos moradores para que não permaneça essa sensação de descontrole com algo tão sério. Infelizmente, esses episódios relacionadas à vacinação contra gripe representam apenas uma parcela da série de entraves encontrados pelos pacientes que dependem da rede pública de saúde, que enfrentam situações de descaso todos os dias em todo o País.