Durante quatro décadas, o terreno amplo na esquina da avenida Tamandaré com a rua Fernando de Noronha, em Campo Grande, abrigou uma família de nordestinos, mas desde a morte da matriarca, dona Maria, a casa passou a ser também um espaço em homenagem à ela.
Debaixo da sombra do cajueiro plantado por dona Maria, o filho, Teo Moreno, de 63 anos, conhecido como Raulzito, transformou o local em restaurante caseiro e batizou como Cajueiro D'Maria. As mesas com guarda-sol na calçada lembram ambiente praiano e são um convite para entrar.
Logo na entrada, fotos mostram a homenageada sorridente, em uma delas com uma faixa de miss simpatia. A prateleira de madeira na porta também é decorada com a chaleira que ela tanto gostava por conta do apito de aviso, segundo o filho.
Mais à frente, um banner e uma foto maior de dona Maria com a frase "Aqui vivi, aqui chorei, aqui sorri, aqui curti os meus lindos chamamés".
A maioria dos visitantes chega ao local e se pergunta quem foi dona Maria e qual o motivo da homenagem. Muitos pensam que é para cumprir promessa, mas Raulzito explica que só quer semear o amor da mãe e ficar mais tempo ao lado do pai de 92 anos.
"Foi uma amante do chamamé, uma pessoa extrovertida, muito católica, miss simpatia, extremamente vaidosa. Quis homenagear e mostrar para as pessoas quem ela foi. É a forma que encontrei para manter viva a memória dela, colocando músicas que ela gostava de ouvir, enchendo de fotos dela. Acho que ela está feliz com isso que estou fazendo aqui, por isso que está dando certo", avaliou.
Dona Maria morreu aos 77 anos de câncer em 2014. Com a partida da mãe, Téo continuou morando com o pai Teodomiro na mesma casa. Músico, Raulzito vivia tocando na noite, mas deixou de lado o ofício para ficar mais tempo com o pai.
Foi quando surgiu a ideia do restaurante em casa. Três vezes por semana ele tem ajuda de uma cuidadora, mas nos demais dias é ele quem se divide entre a atenção ao pai e aos clientes. Por conta disso, o atendimento é das 8h às 17h, de terça a sexta-feira.
Restaurante
O Cajueiro D'Maria lembra restaurantes na beira de estrada. A varanda e o quintal da casa viraram local de receber clientes, a quem Raulzito chama de visitantes. A qualquer hora do dia, quem passa por ali pode comprar água de coco, carvão e lenha. Na hora do almoço, o restaurante abre com a venda de espetinho completo e macarrão na chapa.
As mesas para refeição ficam na sombra do cajueiro da Dona Maria. O clima agradável lembra o estilo rústico do campo, reforçado pela quantidade de plantas e canto dos pássaros. Aos fins de semana, o atendimento é só para venda da costela gaita para viagem e Raulzito garante que esse é o carro-chefe do local.
A decoração improvisada é fruto da criatividade de Raulzito. Os cocos secos pintados de branco enfeitam a passagem de pedras que leva o cliente aos fundos da casa. Nas mesas debaixo da sombra, um pequeno vaso de flor se destaca em meio ao verde das plantas. Os muros da casa foram pintados e receberam desenhos feitos pelo filho.