Numa partida de futebol, é possível ter esperança até os 45 minutos do segundo tempo. Em caso de empate, essa expectativa pode se estender para o período da prorrogação e até nos pênaltis. Se o adversário estiver muito a frente no placar, porém, a derrota acachapante será inevitável. É justamente esse espírito que faz o torcedor vibrar e se emocionar, até os minutos finais de uma partida, como vem ocorrendo com diversos brasileiros que acompanham as várias provas da Olimpíada no Rio.
No campo esportivo, os atletas são movidos pela competitividade, atributo que “invade” a área política nos tempos de eleição. Um candidato tenta mostrar que sabe mais que o outro, que tem condições de fazer melhor ou, para aqueles que buscam a reeleição, tenta-se angariar pontos para permanecer no jogo. Na área da gestão pública, porém, não se aplicam as mesmas regras de tentar, nos últimos minutos, obter algum resultado positivo. O trabalho precisa ser contínuo para chegar a vitória.
Impressiona, neste ponto, a tentativa da Secretaria Municipal de Saúde em apresentar proposta de parceria com os Governos Federal e Estadual para abrir 130 novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em três hospitais de Campo Grande. Tudo isso em quatro meses, necessitando de aporte financeiro de R$ 67 milhões. Não há dúvidas acerca dos benefícios e também da necessidade dos novos leitos, tendo em vista que há anos pacientes sofrem esperando vagas nos hospitais.
Há, inclusive, casos de pessoas que morreram em Unidades de Pronto Atendimento Médico (UPAs) sem conseguir a transferência para os leitos mais bem estruturados. O pouco prazo para iniciar esse investimento, porém, suscita dúvidas. Essa parceria poderia ter sido formalizada há mais tempo, mas havia resistência da administração municipal. No começo deste mês, por exemplo, o secretário estadual de Saúde, Nelson Tavares, relatou dificuldade em contratualizar parceria para 10 leitos de UTI, proposta que se arrastava há meses.
No setor de infraestrutura, também ocorre essa “corrida” para tentar mostrar resultados. Houve anúncio da retomada de obras de Centros de Educação Infantil (Ceinfs), postos de saúde e escolas que estavam paralisadas desde 2012, todas com projetos da gestão anterior. Entretanto, os novos investimentos da atual gestão não avançaram além da colocação de novas placas.
O abandono permanece. No afogadilho, também são lançados editais de licitação para contratar empresas que vão recapear ruas da cidade, com investimentos que chegam a R$ 22 milhões de recursos próprios – dinheiro que até pouco tempo a administração municipal alegava não ter em função da crise econômica. Considerando todo o trâmite, não se tem a certeza sobre quando essas obras serão, de fato, iniciadas.
Até agora, as tentativas de marcar pontos apenas nos últimos instantes têm fracassado. Na política, o eleitor terá a missão de definir o vencedor, avaliando série de requisitos. Por mais que o período de campanha – nesse ano mais curto – seja marcado pela intensa disputa para tentar agradar e convencer o cidadão, é preciso avaliar que um plano de governo não é construído na última hora. Propostas exequíveis exigem experiência, análise e conhecimento. No caso da política, será difícil reverter o placar negativo nos últimos momentos, apenas vendendo ilusões.