Em depoimento prestado à Polícia Federal, em Curitiba, nesta quinta-feira, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró negou que tenha recebido propina por contratos celebrados com a estatal e afirmou que a atual presidente da petroleira, Graça Foster, também transferiu imóveis para os filhos no Rio de Janeiro. O ex-diretor foi preso na madrugada desta quarta-feira após o Ministério Público ter detectado que ele continuava a praticar crimes e que tentava se desfazer do patrimônio em seu nome. Ele chegou a transferir três imóveis para os filhos em uma operação interpretada como uma tentativa de evitar que os bens fossem penhorados no futuro para o ressarcimento dos prejuízos causados pelo esquema de fraudes na Petrobras.
“A atual presidente da Petrobras realizou operações semelhantes, transferindo imóveis aos filhos dela”, disse Cerveró. Em agosto, foi revelado que Graça Foster havia transferido imóveis no Rio de Janeiro para os filhos “com reserva de usufruto”, o que levou o ex-ministro do Tribunal de Contas da União José Jorge a defender o bloqueio de bens da presidente da estatal. Para o ministro, a mudança de titularidade dos imóveis poderia ser uma tentativa de driblar as investigações e eventuais punições pela malfadada compra da refinaria de Pasadena. A Corte, porém, decidiu não bloquear os bens nem de Graça Foster nem de Cerveró.
No depoimento de hoje, o ex-diretor disse que não tem patrimônio de origem ilícita e negou que tenha tentado dissimular a propriedade de qualquer um de seus bens. Alegou que a transferência de imóveis para os filhos Bernardo e Raquel e para a neta Anita, em maio de 2014, era uma “antecipação de herança”, mas admitiu ter fraudado o valor de compra nas transferências para pagar menos imposto. O ex-diretor alegou que recebia 100.000 reais mensais como diretor da Petrobras, o que teria permitido a ele comprar imóveis. Atualmente, ele diz que vive com cerca de 15.000 reais mensais fruto da aposentadoria do INSS, complementada pelo fundo de pensão da Petrobras (Petros), e do aluguel de um apartamento em Ipanema, no Rio.
Embora o Ministério Público aponte Cerveró como o destinatário final de boa parte da propina arrecadada pelo lobista Fernando Baiano nos contratos fraudados na Petrobras, o ex-diretor da Petrobras disse que nunca recebeu oferta de dinheiro por parte de Baiano, negou ter recebido recursos ilícito de contratos com a Petrobras e afirmou não possuir offshores ou contas bancárias no exterior. Ele admitiu, porém, que mantinha “certa relação de amizade” com Fernando Baiano, apontado como o operador do PMDB no escândalo do petrolão, e afirmou que o lobista e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa eram “conhecidos”. Questionado, disse não conhecer o doleiro Alberto Youssef.
De acordo com a acusação, Cerveró recebeu 30 milhões de dólares a partir da mediação de Fernando Baiano para a consolidação de contratos de navios-sonda com a Samsung. Em acordo de delação premiada, o executivo Julio Camargo, da empresa Toyo Setal, confirmou os pagamentos ilegais. Em seu depoimento, porém, Cerveró deu detalhes dos contratos obtidos pela Toyo Setal com a Petrobras, quando a empresa intermediou a aquisição de navios-sonda da Samsung Heavy Industries, mas disse que não houve distribuição de dinheiro ilícito para a consolidação do negócio. Ele disse que a compra dos navios-sonda foi feita sem licitação porque tinham por objetivo atender uma “necessidade específica e imediata da Petrobras” e não passou por análise do Conselho de Administração da empresa.