Uma busca rápida por programas de emagrecimento nas principais lojas de aplicativo revela dezenas de opções para o usuário. No momento em que 52,5% da população brasileira está acima do peso, os aplicativos de dieta podem ser uma ferramenta interessante de estímulo à alimentação saudável. Mas a orientação de um médico ou nutricionista continua essencial para personalizar as recomendações, dizem os especialistas.
A eficácia do uso dos aplicativos já foi testada pela ciência. Um estudo da Universidade do Estado do Arizona publicado em 2014 pelo “Journal of Nutrition Education and Behavior”, por exemplo, concluiu que o uso do aplicativo "Lose It!", popular nos Estados Unidos, aumentou de forma considerável a persistência dos participantes. Eles conseguiram registrar o que comiam com mais fidelidade em comparação aos que usavam papel e caneta para anotar seu cardápio.
Monitoramento facilitado
O endocrinologista Marcio Mancini, da Sociedade Brasileira Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo (SBEM-SP), observa que o mecanismo da maior parte desses aplicativos é o de registrar sua própria alimentação diária e monitorar a quantidade de comida ingerida.
“O paciente que se automonitora, tanto no registro dos alimentos como nas pesagens, acaba tendo resultados melhores. E o aplicativo só vem facilitar o registro”, diz. “É mais fácil apertar o botãozinho, que já vai fazendo a conta de quanto já foi consumido, do que pegar o papel e fazer na mão.”
O risco, segundo ele, são as orientações generalizadas feitas pelos aplicativos, que podem não ser válidas para todos. Essa também é a opinião do nutricionista Alessandro Aguiar de Oliveira, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. “A maioria propõe uma programação de perda de peso de até 8 kg por mês, quando o indicado é perder de 3 a 4 kg no máximo. Eles também não levam em conta se a pessoa tem alguma patologia como diabetes, por exemplo.”
Os que já experimentaram veem pontos positivos e negativos. A psicóloga Jully Fortunato Buendgens, de 33 anos, vivia sob o "efeito sanfona" desde a adolescência. Já estava cansada de oscilar de peso quando resolveu adotar uma dieta de baixo nível de carboidrato há três anos. Foi nessa época que descobriu o aplicativo “Fat Secret”, que ajuda a contar calorias.
Ela diz que o aplicativo foi fundamental em sua reeducação alimentar. “Sou acompanhada por nutricionista e nutrólogo. Mas eles não têm tempo de explicar cada alimento. Dão um quadro geral. O aplicativo serviu para derrubar alguns mitos. Achava que quando comia uva, por exemplo, estava abafando. Descobri pelo aplicativo que tem muito açúcar. Aprendi também o quanto as frutas vermelhas têm substâncias positivas e baixíssimo carboidrato”, exemplifica.
Jully, que é autora do blog “A última dieta da minha vida”, usou o app durante 6 meses. Depois disso, conseguiu continuar a alimentação saudável sem a ajuda da ferramenta. “Com o aplicativo, a gente fica muito focada na dieta. A longo prazo, isso pode fazer com que esse foco todo seja prejudicial, que você vire a chata da dieta. Se cada vez que eu for comer uma banana, tiver que pesar para saber quantos gramas tem, isso vira uma neurose”, diz. Ao todo, Jully perdeu 25 kg desde que começou a dieta: foi dos 90 kg aos 60 kg.
Sem acompanhamento, é arriscado
A nutricionista Camila Wildberger Lisboa também resolveu testar um desses aplicativos, o “My Fitness Pal”. A ferramenta chamou sua atenção quando sua irmã começou a usá-lo e perdeu 5 kg em pouco mais de dois meses.
Ela viu como positivo o fato de esse aplicativo funcionar como uma rede social e poder servir como uma ferramenta para ser usada entre o nutricionista e seus pacientes. “Você pode acompanhar todo o cardápio de quem está na sua rede. Assim é possível que um nutricionista acompanhe a evolução do paciente pelo aplicativo”, diz. "Para o nutricionista, é excelente, pois é um diário de tudo o que o paciente comeu", acrescenta.
Camila alerta que fazer a dieta sem acompanhamento, porém, é arriscado. “Coloquei os meus dados e o aplicativo calculou uma dieta de 1.200 calorias para mim. Sei que isso é muito pouco. Desse jeito, ele pode incentivar as pessoas a fazerem uma dieta hipocalórica que pode ser prejudicial.”
Veja os aplicativos de dieta gratuitos que estão entre os mais baixados atualmente na loja de aplicativos App Store, da Apple, no Brasil: