A completa estagnação de projetos no setor de habitação, em Campo Grande, a crise econômica e desemprego recorde contribuem para expansão de favelas na cidade. Esse deletério impacto social da recessão, porém, parece não ser suficiente para que gestores adotem providências básicas. Além da falta de assistência básica às famílias prejudicadas, a Prefeitura de Campo Grande deixa 532 casas prontas desocupadas.
Para um dos residenciais, no Jardim Canguru, já foi feito o sorteio dos moradores que receberão as moradias, mas as chaves não foram entregues. No outro, no Jardim Centro-Oeste, não há qualquer perspectiva. Em meio a fila de 32,5 mil à espera de uma casa popular, é disparate permitir que pessoas, inclusive crianças, continuem morando debaixo de lona, aguardando simples inauguração.
Nas últimas semanas, mostramos duas reportagens o drama de famílias que não estavam mais conseguindo arcar com o aluguel porque perderam o emprego e não conseguiram outra oportunidade. Improvisaram barracos em áreas públicas, como às margens de rodovias nas saídas da Capital ou na Vila Romana, esta última com 123 famílias, maioria indígenas.
Obviamente, seguindo critérios, não se poderia beneficiar com novas moradias apenas aqueles que invadiram áreas e, explicitamente, encontram-se em condições mais complicadas de vulnerabilidade social. Há uma fila de espera para ser incluído nos programas habitacionais que deve ser respeitada. Caso contrário, acaba-se criando precedente perigoso para estímulo a invasões.
Essas regras, porém, não eximem os gestores de outras obrigações. Benefícios sociais, como Bolsa Família, Vale Renda ou ajuda da prefeitura, ainda não chegam a todos esses moradores que, neste momento, precisariam de auxílio para se reestruturarem financeiramente. As ações da administração municipal, infelizmente, limitaram-se a ameaças de expulsar as famílias da área na Vila Romana. Difícil acreditar que alguém vai sair de um casa, por mais simples que seja, para morar em um barraco sem energia elétrica ou água encanada porque quer.
Os programas de assistência – que se transformaram em bandeira eleitoral – precisariam ser aplicados justamente nestes momentos, como ajuda temporária àqueles que estão enfrentando dificuldades. Entretanto, foram perpetuados, tornando beneficiários completamente dependentes dos governantes.
Campo Grande precisa voltar a ter projetos voltados à expansão habitacional, para atender as famílias de baixa renda. Mais que isso, há necessidades de os gestores planejarem ações que possam evitar o avanço da pobreza, propiciando investimentos capazes de impulsionar a geração de vagas no mercado de trabalho. Inaceitável, porém, que mais pessoas sejam vítimas dessa inexplicável displicência, em que famílias enfrentam dificuldades, vivendo em condições precárias enquanto casas estão prontas para morar, mas não são entregues. Contrassenso que precisa ser corrigido com urgência. A população não quer festa de inauguração. Só espera um pouco de auxílio para viver com dignidade.