Fazer mais, com menos dinheiro. É o que todo gestor promete, principalmente no período de campanha eleitoral. É também a expectativa de todo contribuinte, que vê grande parte de seu salário ser transformada em impostos revertidos em serviços públicos de péssima qualidade. Por isso, os campo-grandenses recebem com preocupação a previsão da prefeitura em reduzir ainda mais os investimentos em saúde no próximo ano. A ideia é tentar convencer que será possível oferecer melhor atendimento, mesmo sem usar tantos recursos. Assume-se, dessa forma, que verbas públicas foram desperdiçadas ou, no mínimo, mal aplicadas, inclusive pela atual gestão. Afinal, as queixas nesse setor são constantes e há ainda muito a ser melhorado.
Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias, aprovado nesta semana pelos vereadores, mostra a intenção de reduzir os investimentos na saúde. Atualmente, são aplicados 28% da receita total, mas a previsão é baixar para 20%. Essa redução torna-se ainda mais incompreensível, considerando o aumento de gastos já previsto em função da ampliação de serviços. Recentemente, foi firmado convênio com o Hospital Universitário, em que a prefeitura comprometeu-se a repassar R$ 840 mil mensais. Há ainda, a previsão de inauguração do Hospital do Trauma, anexo à Santa Casa, o que deve implicar em aporte financeiro também pelo Município. Além disso, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) estão sendo inauguradas. De nada adiantarão belos prédios sem as devidas melhorias para que o atendimento aos pacientes também seja aperfeiçoado.
Infelizmente, hoje esse contrassenso vem ocorrendo.
O Governo Federal destina recursos para inaugurar novos postos de saúde, mas deixa a “bomba” nas mãos dos gestores, que terão de arcar mensalmente com os custos de novos profissionais e também com os equipamentos para as novas unidades. A Prefeitura de Campo Grande, por exemplo, não vem dando conta de tais atribuições e apenas transferiu os problemas já existentes, como superlotação e atraso nas consultas. É o que ocorreu, por exemplo, do centro de saúde do Guanandy para a UPA do Leblon. Mudou a estrutura física, mas o atendimento permanece inalterado.
Nos quase quatro anos da gestão de Alcides Bernal, o Ministério Público Estadual instaurou 194 procedimentos investigatórios relacionados à deficiências na saúde pública. Isso demonstra a ineficiência do serviço, algo que tende a piorar ainda mais com a redução de despesas. Certamente, há sérios problemas de gestão que precisariam ser corrigidos, mas a ideia de fazer mais com menos dinheiro não convence, ainda mais depois de passados quase quatro anos em que as melhorias continuaram apenas no discurso.
Poderiam ter feito mais durante esses últimos anos para, então, comprovar na prática que essa equação seria possível. Hoje, a conta simplesmente não fecha e tende a agravar o cenário de já caótico. Vamos deixar a utopia de lado! A crise força contenção de gastos, mas há setores em que parece impossível impor ainda mais cortes.