Tempos de fanatismo

Quase explodiram Lady Gaga em Copacabana. Não por causa do timbre vocal, das coreografias ousadas ou do figurino, mas porque, para um grupo de lunáticos, 2,1 milhões de pessoas reunidas para cantar e dançar representam uma ameaça. A Polícia Civil do Rio, com faro aguçado, evitou a tragédia, e o show virou celebração em vez de luto coletivo.

O atentado frustrado tinha alvos bem definidos: crianças, adolescentes e o público LGBTQIA+, como se a existência desses corpos e afetos fosse uma provocação. O plano incluía coquetéis molotov e explosivos improvisados, mas era movido a um combustível mais potente que pólvora: ódio, desses que não se compra em loja de armas, mas se cultiva em bolhas digitais, irrigado por algoritmos e mentores de porão.

O batismo da operação — “Fake Monster” — diz muito. Monstros não são os que dançam de peruca colorida sob luzes neon, mas os que, em nome de uma suposta moralidade, querem incendiar o mundo. Jovens aliciados, desafiados a fazer do mal um rito de passagem. Um deles preso por pornografia infantil. O outro por armas ilegais. Tudo isso travestido de “desafio coletivo”. Como se matar fosse agora um esporte.

Vivemos tempos em que o aplauso virou alvo. Em que a liberdade é afronta e o diferente, inimigo. E Lady Gaga escapou — desta vez — do destino que a intolerância quer impor a todos que ousam brilhar.

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