A cientista Yara Barros recebe o Whitley Award na noite desta 4ªF (30), em Londres; ela também acaba de ser eleita uma das mais relevantes mulheres pesquisadoras do mundo com o WINGS 2025 Women of Discovery, premiação que será entregue em outubro, nos Estados Unidos.
A bióloga Yara Barros, coordenadora-executiva do Projeto Onças do Iguaçu (POI), recebe nesta quarta-feira, 30, em Londres, o Whitley Award, do Whitley Fund for Nature, conhecido como “Oscar Verde” por sua tradição e concorrência acirrada entre ambientalistas. A premiação reconhece os 30 anos de dedicação de Yara pela conservação da fauna, em especial da onça-pintada e da ararinha-azul.
A cientista brasileira foi selecionada entre mais de uma centena de concorrentes de diversos países e será premiada ao lado de outros cinco conservacionistas responsáveis por iniciativas de preservação de fauna e flora no Sul Global. Cada um receberá £50 mil (cerca de R$ 380 mil) para aplicar em seus projetos ao longo do ano.
À frente do POI desde 2018, Yara tem contribuído decisivamente para ampliar a população do maior felino das Américas na Mata Atlântica, onde a espécie é considerada “criticamente ameaçada de extinção”. Baseada no Parque Nacional do Iguaçu, ela também é coordenadora-executiva do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Grandes Felinos (2024-2029).
“É um sonho realizado, o reconhecimento do trabalho de uma vida inteira”, afirma Yara, que pretende investir o prêmio na ampliação do monitoramento e proteção das onças e das ações de coexistência. A partir de várias iniciativas de pesquisa, engajamento e capacitação da população local para prevenir eventos de predação, o POI quer “transformar medo em encantamento” e promover a coexistência pacífica entre pessoas e grandes felinos.
O projeto é executado em parceria entre o Instituto Pró-Carnívoros, WWF Brasil, Parque Nacional do Iguaçu/ICMBio e CENAP/ICMBio e atua na área do parque e nos dez municípios do entorno, que somam 500 mil habitantes. Um exemplo é o programa “Crocheteiras da Onça”, que formou artesãs e cria oportunidades de geração de renda associadas à preservação dos felinos e outros animais da região.
Com uma equipe de seis pessoas e orçamento anual de aproximadamente R$ 800 mil, o POI tem alcançado resultados positivos dentro e fora do parque, trabalhando em parceria com os argentinos do Proyecto Yaguareté no chamado Corredor Verde, área de Mata Atlântica na fronteira entre Brasil e Argentina. Em pouco mais de uma década, a população de onças-pintadas mais que dobrou. Do lado brasileiro, aumentou de 11 para 25 indivíduos; no Corredor Verde, de 40 a 93 entre 2009 e 2022.
O trabalho de Yara e sua equipe tem chamado atenção de outras entidades pelo mundo. Antes mesmo de receber o “Oscar Verde”, a bióloga de 59 anos foi selecionada este mês como uma das vencedoras do WINGS 2025 Women of Discovery, que financia e potencializa a atuação de mulheres cientistas.
Brasil sediará rede de coexistência
Ela espera que tanto o Whitley quanto o WINGS abram horizontes para a conservação das onças-pintadas e ajudem a levar a expertise do projeto no Parque Nacional do Iguaçu para todo o bioma da Mata Atlântica. O plano está pronto. O Projeto Onças do Iguaçu lidera a criação da Rede de Coexistência da Tríplice Fronteira, unindo Brasil, Argentina e Paraguai.
A meta é promover a coexistência harmoniosa entre comunidades humanas e grandes felinos na região por meio de uma rede colaborativa de capacitação de produtores rurais, projetos de conservação e órgãos ambientais, ampliando a implementação de práticas sustentáveis de manejo.
“O futuro da onça-pintada na Mata Atlântica depende de alinharmos pesquisa e ações de monitoramento, engajamento social e coexistência com a estratégia de revigoramento populacional dos animais”, explica Yara.
Restam cerca de 24% da cobertura original do bioma no Brasil, sendo a maioria de florestas fragmentadas, localizadas em propriedades privadas. Estima-se que existam apenas 300 onças-pintadas na Mata Atlântica. O felino é considerado uma “espécie guarda-chuva”, que, ao ser protegida, acaba beneficiando todo ecossistema em que vive.
Mais informações:
LINK PARA FOTOS: https://drive.google.com/drive/folders/1lVM1qi16Cpc5TU9ktpMf75G25ndE6xAv?usp=sharing
Crédito: Projeto Onças do Iguaçu
LINK PARA VÍDEOS: https://drive.google.com/drive/folders/1QuIsbKC74perSXRA2rNgfzF8H5zL9Brh?usp=sharing. Crédito: Projeto Onças do Iguaçu
Sobre Yara Barros
Bióloga pela USP e doutora em zoologia pela Unesp, é especialista em conservação de espécies animais (http://lattes.cnpq.br/7870937075554339). Coordenadora-executiva do Projeto Onças do Iguaçu desde 2018, dirige também o Plano de Ação Nacional para Conservação de Grandes Felinos, conduzido pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CENAP/ICMBio).
É pesquisadora associada do Instituto Pró-Carnívoros e membro do CPSG Brasil/IUCN (Grupo Especialista em Planejamento para a Conservação da União Internacional para a Conservação da Natureza). Foi diretora técnica do Parque das Aves, presidente da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil, consultora do IBAMA e ICMBio para espécies ameaçadas e coordenadora do Projeto Ararinha-Azul. Último artigo publicado na imprensa: Folha de S. Paulo, 22/03/25 – Onde a onça termina, o humano agoniza
Sobre o Projeto Onças do Iguaçu
É um projeto institucional do ICMBio, desenvolvido em parceria pelo Parque Nacional do Iguaçu, Instituto Pró-Carnívoros, CENAP/ICMBio e WWF Brasil. Sua missão é garantir a conservação da onça-pintada como espécie-chave da biodiversidade do Parque Nacional do Iguaçu. Conduz ações de pesquisa, engajamento, coexistência, capacitação e apoio a políticas públicas e comunicação. Maior felino das Américas, a onça-pintada pode alcançar 2,5 metros e superar os 100 kg. Sua mordida é a mais poderosa entre os grandes felinos, e sua dieta é composta por 80 espécies como antas, jacarés, quatis, tatus e capivaras.
Sobre o Whitley Fund for Nature (WFN) e o Whitley Awards (WA)
O Whitley Fund for Nature é uma organização beneficente do Reino Unido que apoia líderes de conservação do Sul Global. Desde sua criação, em 1993, já destinou £24 milhões (cerca de R$ 178 milhões) para 220 conservacionistas em 80 países. Pioneira na área, foi uma das primeiras instituições a destinar financiamento diretamente para projetos liderados por cidadãos locais em seus países.
O rigoroso processo de seleção da entidade identifica indivíduos inspiradores que combinam ciência de ponta com ação comunitária. Os prêmios de destaque do WFN – os Whitley Awards – são apresentados pela madrinha da organização, Sua Alteza Real Princesa Anne, em uma cerimônia anual de prestígio realizada na Royal Geographical Society, em Londres. Os vencedores recebem financiamento, treinamento e apoio à visibilidade de seus projetos. Confira a cerimônia de entrega do prêmio aqui.
Além de Yara Barros, os vencedores do Whitley Awards 2025 são: Reshu Bashyal, do Nepal, pelo combate à intensa extração ilegal de orquídeas e teixos; Dr. Federico Kacoliris, da Argentina, por ampliar a proteção ao anfíbio mais ameaçado do país, a rã-do-riacho-de-El-Rincón, e seu habitat; Dr. Andrés Link, da Colômbia, pela proteção aos macacos-aranha-marrons nas florestas tropicais de planície do centro do país; Rahayu Oktaviani, da Indonésia, por garantir a continuidade da copa das árvores para o gibão-de-java, espécie da ilha de Java; Dr. Farina Othman, da Malásia, que está salvando os últimos 300 elefantes-de-bornéu na costa de Sabah, na ilha de Bornéu.
Todos os anos, um vencedor anterior do WA é escolhido para receber o Whitley Gold Award, no valor de £100.000 (cerca de R$ 760 mil), em reconhecimento à sua contribuição excepcional para a conservação. O vencedor de 2025 é o Dr. Olivier Nsengimana, de Ruanda, reconhecido por sua liderança na recuperação da população do grou-coroador.
Sobre o WINGS Women of Discovery
Fundada em 2003, a WINGS Women of Discovery é a única organização sem fins lucrativos que concede financiamento irrestrito especificamente para cientistas, exploradoras e conservacionistas mulheres. Responsável pela premiação anual homônima, a ONG visa permitir que “essas mulheres extraordinárias realizem pesquisas ousadas, projetos de conservação e expedições voltadas para a proteção do planeta”.
Cerca de 100 mulheres já foram premiadas, e a WINGS já apoiou outra centena de pioneiras de mais de 80 países com bolsas que, somadas, superam US$ 1 milhão. O prêmio, US$ 20 mil (cerca de R$ 113 mil), será entregue a Yara Barros e a outras quatro selecionadas para a edição 2025 em outubro, na cidade de Nova York.