A família Trad é sinônimo de política em Campo Grande (MS), começando pelo patriarca Nelson Trad, que faleceu em 2011, até o filho mais velho, senador Nelsinho Trad, passando pelo ex-deputado federal Fabio Trad, pelo ex-prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, até chegar ao vereador Otávio Trad. Na verdade, a história desses cinco representantes da família Trad se confunde com a história da Capital de Mato Grosso do Sul.
Porém, tudo começou em 30 de outubro de 1930, quando nasceu em Aquidauana (MS), o advogado e político brasileiro Nelson Trad, que, infelizmente, faleceu no dia 7 de dezembro de 2011 em Campo Grande, cidade que escolheu para morar, constituir família e trilhar os caminhos da política, enfrentando até mesmo a ditadura militar dos anos 60, 70 e 80 do século XX.
Filho dos imigrantes libaneses Assaf Trad e Margarida Maksoud, Nelson Trad casou-se com Therezinha Mandetta e teve cinco filhos: Fátima, Maria Thereza, Marquinhos, Fábio e Nelsinho, sendo os três últimos também políticos. Ele exerceu o cargo de deputado federal por Mato Grosso do Sul e cursou advocacia na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) entre 1953 e 1957.
Após receber o diploma de advogado, Nelson Trad voltou para Mato Grosso do Sul e atuou como criminalista, mas acabou entrando na política. Porém, antes de voltar ao Estado, ele comandou uma greve que parou a linha de bonde no Rio de Janeiro. O protesto rendeu a Trad a fama de “baderneiro” e de “comunista”, pois era advogado do PCB (Partido Comunista do Brasil).
Durante a Ditadura Militar, Nelson Trad ficou preso por 25 dias e ficou na clandestinidade. Ele foi um dos primeiros advogados do Brasil a impetrar habeas corpus contra prisão ilegal, cerceando a liberdade de ir e vir. Na política, o ex-deputado federal presidiu o PTB em Mato Grosso do Sul e foi muito amigo do ex-governador Pedro Pedrossian.
Nelson Trad teve quatro mandatos como vereador, saiu para ser vice-prefeito de Antônio Mendes Canale, depois foi cassado pelo Regime Militar e ficou 10 anos inelegível, voltando como deputado estadual e depois federal. Fiel a apenas dois partidos políticos – PTB, no qual se filiou em 1957, e MDB, ele foi um político de renome nacional. Em 2006, foi relator no processo do conselho de ética da Câmara Federal e recomendou a cassação do mandato do deputado federal Roberto Brant (PFL-MG).
De pai para filho
Natural de Campo Grande, onde nasceu no dia 5 setembro de 1961, Nelsinho Trad herdou do pai o amor pela política, mas, diferente do patriarca da família, escolheu a Medicina ao invés do Direito. Hoje é filiado ao PSD, pelo qual foi eleito senador da República, cargo que ocupará até 2026. Ele também foi prefeito de Campo Grande por dois mandatos.
Formado em Medicina pela Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro, com especialização em Cirurgia Geral, Urologia, Medicina do Trabalho e Saúde Pública, Nelsinho foi casado com Maria Antonieta Amorim, com quem tem dois filhos, e, atualmente, é casado com Keilla Soares, com quem é pai de uma menina.
Começou sua carreira política como diretor-adjunto do Previsul (Instituto de Previdência do Estado de Mato Grosso do Sul) no governo de Pedro Pedrossian. Filiado ao PTB, foi eleito vereador por Campo Grande em 1992 e reeleito sucessivamente em 1996 e em 2000. No biênio 2001/2002 presidiu a Câmara Municipal.
Em 2002, elegeu-se deputado estadual mais votado, com 36.283 votos e, em 2003, se transferiu do PTB para o MDB, onde se candidatou a prefeito da Capital em 2004, vencendo a disputa em primeiro turno com 213 mil votos, que teve como vice-prefeita Marisa Serrano. Como prefeito, foi agraciado em 2006 pelo então vice-presidente José Alencar com a admissão à Ordem do Mérito Militar no grau de Oficial especial.
Em 2008 foi reeleito prefeito com 288.821 votos ou 71,41% dos votos válidos, tendo como vice-prefeito Edil Albuquerque. Em 2014, disputou a eleição para o governo estadual do Mato Grosso do Sul com apoio do então governador André Puccinelli.
A campanha digital de Trad Filho, coordenada pela empresa Medialogue Digital, foi uma das primeiras no Brasil a usar de forma ampla o WhatsApp. Em 2018, de volta ao PTB, foi eleito senador por Mato Grosso do Sul com 424.085 votos ou 18,37% dos votos válidos e, em 2019, se transferiu novamente de partido, desta vez para o PSD.
Marquinhos Trad
No caso de Marquinhos Trad, que também nasceu em Campo Grande no dia 28 de agosto de 1964, ele é um político e advogado brasileiro, filiado ao PSD, sendo o 64º prefeito da Capital, no período de 2017 a 2022. Anteriormente, foi vereador de Campo Grande entre 2005 até 2007 e deputado estadual de Mato Grosso do Sul entre 2007 a 2016 por três mandatos consecutivos.
Casado com Tatiana Trad, ele é pai de quatro filhas, Andressa, Aline, Mariana e Alice, e avô da Lara e da Isabele. É advogado, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Começou na política como vereador em 2004. Foi secretário municipal de Assuntos Fundiários antes de ser eleito para o primeiro mandato de deputado estadual em 2006, sendo reeleito em 2010 e 2014.
Em 2016, foi eleito para o primeiro mandato como prefeito de Campo Grande, com 241.876 votos válidos. Como advogado, integrou a seccional em Mato Grosso do Sul da Ordem dos Advogados do Brasil como conselheiro, presidindo em seguida a Comissão de Ética e Disciplina. Integrou e presidiu o Tribunal de Justiça Desportiva do estado (TJD-MS).
Eleito vereador em 2004, foi secretário municipal de Assuntos Fundiários na gestão do então prefeito André Puccinelli. Exerceu três mandatos como deputado estadual, sendo eleito pela primeira vez em 2006. Foi filiado ao PMDB, migrando para o PSD em 2016.
Em 2016, candidatou-se à Prefeitura de Campo Grande pelo PSD e se classificou para o segundo turno, vencendo a eleição com 58,77% dos votos válidos. Ele deixou o cargo em 2022 para concorrer ao Governo do Estado, mas perdeu a eleição, não conseguindo nem chegar ao segundo turno.
Fábio Trad
Nascido no dia 18 de agosto de 1969 em Campo Grande, Fabio Trad é advogado e político, sendo o quarto filho do deputado federal Nelson Trad. É advogado, tendo ocupado o cargo de presidente da Seccional de Mato Grosso do Sul da Ordem dos Advogados do Brasil no triênio 2007-2009.
Como professor de Direito, lecionou em diversas instituições de ensino como ESMAGIS, UNIDERP, UFMS e UCDB. Em 2018 foi eleito deputado federal e, no exercício do mandato, o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) o colocou na lista dos “100 Cabeças do Congresso Nacional” de 2020, sendo o único deputado federal sul mato-grossense a destacar-se dos demais pelo exercício de qualidades consideradas fundamentais para o exercício parlamentar.
Entre os deputados mais influentes deste ano, segundo o Diap, 31 são articuladores, 24 debatedores, 23 negociadores e 22 formuladores. A exemplo de 2019, Fabio Trad novamente foi destacado por sua capacidade de formulação na Câmara Federal.
E formuladores, segundo a publicação, são “os mais produtivos e, via de regra, dotados de saber, qualidade intelectual e especialização” (…) Ou, em outras palavras, “aqueles que concebem e escrevem o que o Poder Legislativo debate e delibera”. Somente no primeiro semestre o deputado apresentou 12 projetos de lei nas áreas de saúde; segurança; política e administração pública; direitos humanos; economia; e trabalho, previdência e assistência social.
Para o diretor do Diap e coordenador do projeto “100 Cabeças do Congresso”, Antônio Augusto de Queiroz, o deputado Fábio Trad reúne as três virtudes exigidas pela publicação, como o quesito institucional, uma vez que é membro titular da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), principal comissão permanente da Casa.
Pesaram a seu favor, ainda, o papel de protagonismo desempenhado no comitê especial que aprimorou e aprovou o Pacote Anticrime na Câmara PL 882/19, empenho este que mereceu elogios nominais do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o reconhecimento do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
Além disso, Fabio Trad comandou no Congresso os trabalhos do colegiado que tiveram a desafiadora missão de modernizar o atual Código de Processo Penal, em vigor desde 1942, e também foi o relator daquela que é considerada a principal bandeira anticorrupção do momento, a Proposta da Emenda Constitucional (PEC 199/19), ou PEC da Segunda Instância.
Fábio Trad tentou a reeleição em 2022, mas não obteve sucesso e, em fevereiro deste ano, assumiu o cargo de controlador-auditor da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) a convite do diretor-presidente Marcelo Freixo.
Otávio Trad
Com 34 anos de idade, o vereador Otávio Augusto Trad (PSD) é o caçula político da família Trad. Campo-grandense, casado com Natália Rios Godoy Trad Martins, é advogado, formado em 2007 pela Universidade Católica Dom Bosco. Como acadêmico do curso de Direito, Otávio trabalhou no escritório de advocacia Ernesto Borges e no escritório da família, onde atua como advogado desde 2013.
Com intuito de promover o bem-estar da sociedade campo-grandense, em 2012, Otávio se candidatou a vereador pela primeira vez e foi eleito pelo PTdoB. Durante o primeiro mandato, o vereador participou da Comissão Permanente de Legislação, Justiça e Redação Final da qual foi membro, vice-presidente e presidente ao longo de quatro anos. Foi presidente da Comissão Permanente de Segurança Pública, vice-presidente da Comissão Permanente de Defesa do Consumidor e presidente da Comissão Permanente da Juventude entre 2012 e 2014.
No primeiro mandato, Otávio foi autor de diversos projetos importantes, que contribuíram, inclusive, para o fomento da economia local, como o projeto que regulamenta o funcionamento dos Food Trucks, na Capital, aprovado em 2015. Outra conquista para o vereador foi a aprovação do Projeto de Lei que autoriza a criação do Procon Municipal.
Também são de autoria de Otávio Trad, Projeto de Lei que autoriza o Executivo Municipal a fornecer plantas imobiliárias gratuitamente para pessoas com baixa renda e o projeto que prevê o armamento da Guarda Civil Municipal. Em março de 2016, Otávio Trad se filiou ao PTB pelo qual disputou a reeleição para o mandato de vereador em 2016 e foi reeleito. Em julho de 2018, o vereador Otávio Trad assumiu a presidência do diretório municipal do PTB Campo Grande.
Na última legislatura, o vereador Otávio Trad foi presidente da Comissão Permanente de Legislação, Justiça e Redação Final, vice-presidente da Comissão Permanente de Controle da Eficácia Legislativa e membro da Comissão Permanente de Segurança Pública.
O segundo mandato é marcado por diversas leis importantes para a Capital, como Lei Complementar n. 324/18, que prevê parcelamento do ITBI (Imposto Sobre Transmissão de Bens Imóveis) em até 6 parcelas; a Lei n. 6.035/18, que cria o Programa Arte com Pneus no Município de Campo Grande e a Lei Complementar n. 320/18, que regulariza o Comércio de Alimentos em Vias Públicas de Campo Grande. É autor de muitas outras leis que beneficiam toda a sociedade. Em março de 2020, Otávio Trad se filiou ao PSD e foi reeleito para a Legislatura de 2021 a 2024.
Qual será o futuro dos Trad´s?
Com as eleições municipais do próximo ano, qual será o futuro da família Trad? Como Marquinhos Trad renunciou ao cargo de prefeito de Campo Grande para se candidatar a governador e foi derrotado, a legislação eleitoral impede que, tanto ele, quanto os dois irmãos e o sobrinho saiam candidatos a prefeito da Capital.
Restando para Marquinhos Trad tentar uma vaga de vereador no próximo pleito, batendo de frente com o sobrinho Otávio Trad, que também tentará a reeleição. Quanto a Nelsinho Trad e Fabio Trad, só lhes restam esperar as eleições gerais de 2026, quando o primeiro pode tentar a reeleição ou sair candidato a deputado federal, enquanto o segundo poderá tentar uma vaga na Assembleia Legislativa ou brigar para voltar para a Câmara dos Deputados, porém, em ambos os casos, a tarefa não será das mais fáceis.
No caso de Nelsinho Trad buscar a reeleição para o Senado Federal, ele encontrará adversários fortes, como o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), o deputado federal Vander Loubet (PT-Ms), o ex-governador André Puccinelli, entre outros. Portanto, a família Trad terá uma incógnita pela frente, ou vai ressurgir-se na política, ou poderá ficar sem cargos eletivos nas próximas eleições.