Provas elaboradas e aplicadas pela Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura) voltaram a ser denunciadas ao site Diário MS News nesta semana. Se antes os mais afetados foram os estudantes que participaram dos vestibulares da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), desta vez os prejudicados são os professores que participaram do concurso público da Prefeitura de Ponta Porã organizado pela Fapec.
Segundo denúncia encaminhada por uma professora que participou do concurso público, mais de 180 docentes graduados com anos de experiência que obtiveram notas acima do requisito para serem aprovados na prova escrita, tiraram zero na redação, como aconteceu com os vestibulandos. Ela revelou que a Fapec não levou em conta nem mesmo a assinatura do candidato para zerar o requisito, não teve resposta de espelho da prova e nem explicação da entidade para tantos zeros, fazendo com que os escritos e já aprovados sem nota na redação se sentissem humilhados.
O relato de uma outra professora que não quis se identificar e que sempre trabalhou com redações revelou ao Diário MS News que a nota zero acabou com o respeito e a credibilidade de encarar seus alunos e seus pais. “Ficou parecendo que a minha redação foi um fracasso, um lixo. Outras professoras colegas minhas que também fizeram o concurso afirmam que não param de chorar e estão tomando remédios controlados”, afirmou.
Um outro grupo de professoras que fizeram o concurso disse que, após verificarem a redação com nota zero, constataram que parecia que a prova nem tinha sido corrigida. Ao lerem no site Diário MS News as matérias publicadas sobre o mesmo problema dos vestibulandos que fizeram as provas aplicadas pela Fapec, bem como em outros concursos públicos, as professoras consideram que a entidade falta com respeito e lisura.
Para elas, a renomada bancada da Fapec não deve nem ter corrigido as redações por falta de tempo. “Todas as redações escritas tinham como tema a função social da escola e o compromisso social do educador em tempos da educação inclusiva. Todas tiraram nota zero, mas, como isso é possível se os inscritos no concurso trabalham nessa área? Talvez eles tenham dissertado sobre dinossauros para fugir totalmente do tema e não terem alcançado ao menos nota 1, 2 ou 3”, disse a autora da denúncia, revelando que já entraram com recurso na Justiça contra a Fapec.
Vestibulandos
A reportagem do Diário MS News já publicou que estudantes que participaram dos vestibulares da UEMS e da UFMS apontaram falhas nas correções das provas elaboradas e aplicadas pela Fapec, que resultaram em notas muito baixas, principalmente na redação. A divulgação do resultado do vestibular da UFMS, que foi realizado no dia 4 de dezembro de 2022, comprovou as denúncias feitas ao site pelos vestibulandos, que têm mobilizado as redes sociais pedindo a troca da Fapec.
A reportagem foi procurada por dezenas de candidatos do vestibular 2023 da UFMS e todos reiteram as críticas ao processo seletivo organizado pela Fapec, sendo que até professores de cursinhos apontaram incoerências no método de correção e formulação das questões, segundo os estudantes. A professora Ana Vitória, que é revisora de redações, postou na sua rede social que não consegue entender as notas apresentadas pela banca da Fapec.
“O que eu vejo é um grande despreparo da banca, que, nitidamente, mal se debruçou sobre o conteúdo de diversas redações. Aliás, será que todas foram mesmo corrigidas? Ou apenas foram atribuídas notas zero aleatoriamente? Li algumas que foram para as quais foram atribuídas a nota 100, mas que na verdade apresentaram excelentes argumentações e ótimas reflexões sobre o tema proposto”, reclamou.
O professor João Francisco Medina Araújo, que ensina Física em cursos preparatórios para vestibular, também apontou incoerências na formulação das questões. “Eles estão formulando questões que as unidades de medidas estão erradas, não tem como resolver as questões, e às vezes, quando resolve, chega em resultados que não tem alternativa. Existem algumas inconsistências que eu não consegui entender. Por exemplo, tem um setor onde fala a média por competência. Tem 15 questões de linguagem e a média por competência foi maior que 15”, revelou.
Um vestibulando que prestou vestibular para o curso de Medicina, cujo nome será preservado, afirmou que as questões 38 e 40 de física apresentaram “erros inadmissíveis”, enquanto as questões 37 e 39 tiveram as respostas corretas alteradas no gabarito definitivo. “As questões de número 38 e 40 deveriam ser anuladas pois não apresentam resposta correta entre as alternativas. Contudo, anulou-se apenas a questão de número 40. As questões de número 37 e 39 tiveram as respostas alteradas. O gabarito preliminar publicado atribuiu as respostas corretas a essas questões. No entanto, o gabarito definitivo atribuiu como corretas alternativas que estavam erradas”, explicou.
Falhas corriqueiras
As constantes falhas registradas pela Fapec na elaboração e aplicação de processos seletivos em Mato Grosso do Sul já são corriqueiras. Em fevereiro do ano passado, por exemplo, a Fapec admitiu que errou na avaliação dos candidatos a professores temporários na Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul. Conforme nota oficial publicada pela instituição, o erro foi em uma das etapas, a prova de títulos.
“No dia 1° de fevereiro de 2022 realizou o envio da classificação dos candidatos selecionados em seu componente curricular e nas modalidades APEES (Apoio Pedagógico Especializado para Estudantes Surdos) e APE (Apoio Pedagógico Especializado), em documentos separados. No dia 2 de fevereiro, os candidatos entraram em contato com a Fapec informando um equívoco no resultado de suas habilitações”, explicou na nota.
Diante da constatação, ainda conforme a Fapec, foi decidido que seria feita a revisão em todos os resultados e que, até o meio-dia do dia 7 de fevereiro de 2022, iria encaminhar o arquivo à SAD (Secretaria de Estado de Administração e Desburocratização) para nova republicação. “Diante do ocorrido, a diretoria da Fapec decidiu interromper o atendimento ao público para dedicar-se completamente à revisão das listagens, comprometendo-se em entregar, até a próxima segunda-feira, os resultados revisados para republicação”, concluiu a nota.
Segundo um grupo de 250 professores candidatos, que divulgaram uma carta aberta na data, foram três os principais questionamentos que envolveram a seleção e todos têm relação com a mesma etapa: a prova de títulos. A primeira reclamação teve como base a dificuldade de anexar os títulos no site da Fapec, quando muitos candidatos não conseguiram anexar seus documentos, ou quando conseguiram tiveram alguns deles ignorados na avaliação da banca, o que pode ter causado prejuízo na nota final.
O segundo questionamento foi justamente a resposta dos recursos protocolados pelos candidatos em relação aos erros citados acima. “Tal fato ocasionou pontuações erradas, recursos indeferidos sem justificativa, não habilitação do profissional para o exercício do trabalho. Relatamos também, instabilidade e oscilação sistêmica na página da empresa responsável FAPEC-MS”, disse trecho da nota articulada por uma candidata.
A partir das inúmeras reclamações e do reconhecimento por parte do Governo de que a Fapec deveria se explicar, a SAD e a SES (Secretaria de Estado de Educação) anularam sete editais relacionados ao processo seletivo dando como motivo “inconsistências verificadas pelas secretarias”, sem explicar quais exatamente. Em nota, as duas secretarias notificaram a Fapec para que ela apresentasse resposta às reclamações, assim como o encaminhamento das reanálises para publicação dos editais com eventuais novas listas de aprovados.
Essa medida causou o terceiro questionamento dos candidatos, que não sabiam como a publicação dos novos editais iria acontecer. “Por isso, necessitamos de um posicionamento claro e efetivo das instituições responsáveis. De uma explicação clara e detalhada quanto a esse erro, sua retificação e uma nova abertura de inclusão de prova de títulos”, finalizou a nota dos candidatos.
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